A Assembleia Nacional da Venezuela, de maioria opositora, designou nesta quarta-feira (13) um novo conselho diretor para a Citgo, subsidiária da petroleira venezuelana PDVSA nos EUA, em uma tentativa de retirar das mãos do ditador Nicolás Maduro o controle das renda do petróleo do país.
Foram indicados para a direção da Citgo os venezuelanos Luisa Palacios, Angel Olmeta, Luis Urdaneta e Edgar Rincon, todos vivendo nos EUA atualmente, mais um americano.
O anúncio foi feito por Guaidó, reconhecido como presidente interino da Venezuela por cerca de 50 países. "Tomamos um passo na direção da reconstrução da PDVSA", afirmou ele pelo Twitter, após a indicação dos novos diretores. "Com esta decisão, estamos não apenas protegendo nossos ativos, mas também evitamos sua contínua destruição."
"A nova direção será composta por venezuelanos capazes, livres de corrupção e sem filiação partidária", acrescentou, qualificando o anúncio de "histórico".
A Citgo e a PDVSA não comentaram o anúncio.
Exatamente como a tomada de controle da Citgo ocorreria não ficou claro, e há grandes chances de que a autoridade dos novos diretores seja questionada judicialmente. Apesar do reconhecimento internacional a Guaidó, Maduro retém o controle das instituições estatais, entre elas a PDVSA, principal fonte de renda do regime, e conta com o apoio das Forças Armadas. Ele afirmou que não vai permitir que a Citgo seja "roubada".
Em uma entrevista a um canal de TV libanês divulgada nesta quarta, Maduro afirmou que Guaidó irá enfrentar a justiça "mais cedo ou mais tarde" por violar a Constituição após se declarar presidente interino no mês passado. "Essa pessoa, que acredita que a política é um jogo e que pode violar a Constituição e a lei, mais cedo ou mais tarde terá de responder aos tribunais", afirmou.
Se conseguir o controle da Citgo, o ativo estrangeiro mais valioso da Venezuela, Guaidó pode obter parte dos fundos necessários para formar um governo interino, embora um controle sobre a PDVSA seja improvável enquanto Maduro estiver no poder.
A produção de petróleo pela PDVSA caiu para o nível mais baixo em cerca de 70 anos, devido a dívidas, corrupção e baixa manutenção de sua infraestrutura, em meio à grave crise econômica por que passa o país. Agravando a situação da companhia, o governo de Trump impôs sanções contra o setor petrolífero venezuelano no dia 28 de janeiro, com o objetivo de impedir exportações para os EUA e aumentar a pressão sobre Maduro.
Crítica do papa
As pressões ao regime chavista também vem de fora – desta vez, do Vaticano.
O papa Francisco lembrou ao ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, que "o que foi estabelecido em reuniões não foi acompanhado por ações concretas", segundo a carta em resposta ao pedido de mediação feito pelo chavista para resolver o impasse político no país. Os trechos foram divulgados pelo jornal Corriere della Sera, que nota que o texto é endereçado ao "Excelentíssimo senhor", e não excelentíssimo presidente, tratamento usado nessas situações.
O pontífice frisou que não é a favor de "qualquer diálogo", mas de uma negociação em que "as diferentes partes do conflito ponham o bem comum acima de interesses pessoais e trabalhem pela unidade e pela paz", disse o jornal italiano, que teve acesso ao conteúdo da carta.
Citando outras tentativas de conversações para resolver o conflito, o papa afirmou que, infelizmente, "elas foram interrompidas porque o que foi negociado nos encontros não foi acompanhado de ações concretas para levar o acordo adiante".
O porta-voz interino do Vaticano, Alessandro Gisotti, não quis comentar o que considerou a publicação "de uma carta privada" do papa em um meio de comunicação. Na segunda-feira, uma delegação parlamentar representando Juan Guaidó reuniu-se com autoridades no Vaticano.
Sobre o encontro, Gisotti declarou apenas que "precisa ser procurada uma solução justa e pacífica para superar a crise, respeitando os direitos humanos, procurando o bem de todos os habitantes do país e evitando um massacre.
Pressão dos EUA
Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump, voltou a dizer que "todas as opções estão sobre a mesa" quando o assunto é a crise na Venezuela. Nesta quarta-feira (13), em encontro com o presidente da Colômbia, Iván Duque, na Casa Branca, Trump deixou em aberto mais uma vez o quão longe o governo americano pretende chegar caso Nicolás Maduro não deixe o poder mesmo com a pressão doméstica e internacional contra seu governo.
"Sempre temos um plano B, C e D, E, F", disse Trump aos jornalistas ao ser questionado se há uma estratégia definida pela Casa Branca para o caso de Maduro não deixar o poder. Duque, porém, descarta a possibilidade de uma ação militar, que também enfrentaria resistência do Congresso americano. Na Casa Branca, o presidente da Colômbia enfatizou o papel do "cerco diplomático cada vez mais efetivo".
Trump foi questionado se pretendia enviar 5 mil soldados à Colômbia. "Vamos ver", respondeu. A frase "5 mil soldados para a Colômbia" foi vista no caderno de anotações do assessor para Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, durante pronunciamento à imprensa no final de janeiro.
A Colômbia foi um dos primeiros países a reconhecer o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, como presidente interino do país, após os EUA terem tomado a decisão. É um dos países mais afetados pela crise venezuelana e já recebeu mais de 1 milhão de imigrantes.Depois que as anotações de Bolton viraram notícia, o ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Carlos Holmes Trujillo, disse que Bogotá não sabia por que o assessor havia mencionado seu país em uma anotação.
Apoio da China
Apesar disso, o regime conta com um grande aliado: a China.
Nesta quarta-feira, o governo chinês negou informações de uma reportagem do Wall Street Journal que garantia que diplomatas chineses iniciaram negociações com a oposição venezuelana para proteger seus investimentos no país. "A reportagem é falsa. É fake news", afirmou Hua Chunying, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China.
O Wall Street Journal disse que diplomatas chineses, preocupados com investimentos e projetos no setor de petróleo na Venezuela, mantiveram conversas em Washington com representantes de Guaidó.
Os acordos de empréstimos que envolvem a venda de petróleo feitos pela Venezuela com a China são uma importante fonte de recursos para o governo venezuelano. Oficialmente, no entanto, Pequim diz apenas que "está em contato próximo com todos os partidos da Venezuela.
"Não importa como a situação evolua, a cooperação China-Venezuela não deve ser afetada", afirmou o governo, em nota. "O dialogo pacífico e a via política são a única forma de avançar rumo a uma paz duradoura na Venezuela."
Na última década, a China emprestou à Venezuela US$ 65 bilhões. Caracas ainda deve a Pequim cerca de US$ 20 bilhões, segundo o Wall Street Journal. A única chance de receber a dívida seria evitar o colapso da indústria venezuelana do petróleo, embora os baixos preços do combustível e a crise econômica não sejam favoráveis a essa possibilidade
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