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opinião

O problema maior está na outra ponta

Processos de nulidade matrimonial na Igreja Católica (ou seja, a afirmação de que determinada união na verdade nunca ocorreu) são desgastantes: é preciso conhecer detalhes da vida do casal para se decidir se houve alguma circunstância prévia à celebração do casamento que caracterizaria a nulidade. O rigor quanto aos critérios não mudou com o motu proprio do papa Francisco publicado nesta terça – as alterações estão em fatores burocráticos, como o prazo e os custos do processo, e quem tem o poder de decisão final.

Mas a demanda por processos de nulidade é uma ponta dos desafios envolvendo a pastoral familiar; a outra ponta também está nas preocupações do papa, que em 2013 afirmou, no voo de volta do Rio de Janeiro para Roma: “Meu predecessor em Buenos Aires, o cardeal Quarracino, sempre dizia: ‘Para mim, a metade dos casamentos são nulos, porque se casam sem saber que é para sempre, porque o fazem por conveniência social’”.

Se há uma crise nos casamentos católicos, a fraca formação dos noivos está na sua raiz. Em quantos cursos de noivos os instrutores expõem com clareza a doutrina católica sobre o casamento, mostrando, por exemplo, que o desejo deliberado de não ter filhos ou a mentalidade de “se não der certo, separamos e tudo bem” tornam um casamento nulo? Formadores que omitem esse tipo de informação para não ferir sensibilidades, ou mesmo por já não acreditar firmemente nessa doutrina, criam as bases para as situações que o papa Francisco busca resolver com a decisão anunciada na terça-feira. O Sínodo dos Bispos programado para outubro deve ser uma oportunidade para se repensar a formação e o acompanhamento dos noivos católicos, para que subam ao altar plenamente conscientes do compromisso que estão assumindo.

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