As organizações humanitárias da Nicarágua repudiaram nesta quarta-feira (31) a exposição de opositores considerados prisioneiros políticos do governo do ditador Daniel Ortega, após as famílias denunciarem subnutrição e magreza extrema dos reclusos.
“Ficou evidente que o regime recorreu a filtros para esconder a palidez deles, mas não conseguiram enganar, não conseguiram desacreditar os seus parentes, que comunicaram em nível nacional e internacional as condições subumanas e a tortura às quais os seus familiares estão sujeitos”, disse o Centro Nicaraguense para os Direitos Humanos (Cenidh), após as autoridades nicaraguenses terem divulgado fotografias e vídeos dos reclusos.
Pelo menos 20 opositores foram exibidos desde terça-feira através de imagens pela imprensa oficial e de perfil sandinista, desde a denúncia conjunta das famílias, na qual afirmaram sofrer “mais desnutrição e emagrecimento extremo” devido a uma suposta redução das porções alimentares.
Nas imagens, os opositores, incluindo a ex-guerrilheira sandinista dissidente Dora María Téllez e três ex-candidatos à presidência, foram vistos com roupas azuis de prisioneiros, com aparências físicas semelhantes às anteriormente descritas pelos parentes, ou seja, de peso inferior ao normal e magros.
O Coletivo de Direitos Humanos Nicarágua Nunca Mais descreveu a exposição como um “espetáculo publicitário” e um “espetáculo de marketing”, com o qual o governo Ortega busca “lavar a cara”.
Tanto o Cenidh como o Coletivo concordaram que as “audiências informativas” perante o juiz Octavio Ernesto Rothschuh, presidente do Tribunal de Apelação de Manágua, e outros juízes, onde as imagens foram supostamente tiradas, não existem no processo judicial.
“É uma confissão expressa de abuso de poder e da prevaricação que todos estes magistrados e juízes estão cometendo”, enfatizou o Cenidh.
“Esta apresentação, do ponto de vista jurídico, não faz sentido. A única finalidade da apresentação é lavar a cara do regime Ortega”, disse o advogado do Coletivo, Juan Carlos Arce.
As organizações exigiram a libertação de mais de 200 prisioneiros considerados presos políticos, incluindo o bispo Rolando Álvarez e dez padres católicos, detidos nos últimos três meses.
Os condenados expostos nos últimos dois dias permanecem encarcerados na prisão conhecida como El Chipote, que foi denunciada como um suposto centro de tortura da polícia nicaraguense por várias organizações humanitárias.
Os opositores, detidos entre maio e novembro de 2021, foram condenados a penas entre sete e 13 anos de prisão por crimes de “traição” ou lavagem de dinheiro.
O ditador Daniel Ortega classificou os opositores presos como “traidores da pátria”, “criminosos” e “filhos da mãe dos imperialistas ianques”.