Algo engraçado aconteceu comigo ontem. Depois de votar na quarta eleição democrática da África do Sul desde 1994, ofereci um almoço em minha casa. Pela primeira vez em 15 anos, desde que os negros ganharam o direito ao voto, nenhuma pessoa à mesa votou para o partido de Nelson Mandela, o Congresso Nacional Africano (CNA). Por sua vez, os ex-ativistas alguns dos quais perderam parentes na luta contra o apartheid decidiram que eles dariam seus votos a um dos outros 25 partidos.
Apesar da imensa demonstração de desconfiança em relação ao CNA, nenhuma pessoa à mesa tinha qualquer dúvida de que o partido iria vencer. "Esse é o erro que os partidos da oposição fizeram nessa eleição. Todos eles falam com a classe média, como nós, em vez de se concentrarem na grande maioria do país: o homem e a mulher no meio rural", disse um dos meus convidados.
Depois, todos olharam para seus copos de vinho e caíram em depressão. Pela primeira vez desde 1994, muitos sul-africanos foram votar não com o orgulho "Nação Arco-íris" (termo cunhado por Mandela). Em vez disso, muitos se sentem como se estivessem num filme clichê sobre outro país africano pós-colonial que perdeu o rumo.
Nos últimos três meses, o governista CNA concluiu a legislação que dissolveu a unidade de combate à criminalidade mais bem- sucedida do país, a Scorpions. É a mesma unidade que investigou Jacob Zuma presidente do CNA e o homem que deve ser o novo presidente do país por corrupção, evasão fiscal, fraude e extorsão.
Nos últimos três meses, o CNA enterrou a sua reputação ao se colocar lado a lado com regimes que não se preocupam com os direitos humanos ao proibir o dalai-lama de assistir a uma conferência de paz a convite do colegas laureados pelo Nobel, como Mandela, FW de Klerk e Arcebispo Desmond Tutu.
Isso acontece depois de alianças do país com o Zimbábue de Robert Mugabe, o Sudão de Omar Al-Bashir e a junta militar de Burma. Mas muitos se preocupam ainda mais com Zuma. Esse é um homem que afirmou acreditar que uma ducha após a relação sexual com uma mulher soropositiva basta para evitar a contaminação com o vírus do HIV.
Todas essas preocupações são intensificadas pela sua falta de substância nas questões políticas. Ele, por duas vezes, pediu um referendo sobre a pena de morte, por exemplo, enquanto funcionários do CNA têm dado sinais de que o partido faria uma campanha contra essa ideia. Assim, a votação de ontem foi de uma só vez um momento de orgulho da jovem democracia da África do Sul, e também um momento amargo. O partido da libertação, o CNA, perdeu seu brilho.
Tradução: Breno Baldrati
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