A China se opôs a uma segunda fase de investigação da origem da Covid-19 proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que incluía "auditorias de laboratórios e instituições de pesquisa relevantes que operam na área onde os casos humanos iniciais foram identificados em dezembro de 2019" – ou seja, na cidade chinesa de Wuhan.
O vice-ministro da Comissão Nacional da Saúde, Zeng Yixin, disse nesta quinta-feira (22) que ficou "muito surpreso" ao saber que o estudo proposto incluía como uma das prioridades a investigação da teoria de que violações de protocolos de segurança no laboratório de Wuhan teriam causado o escape do Sars-CoV-2.
"Este estudo de fase dois do rastreamento da origem é desrespeitoso ao bom senso e contrário à ciência em alguns aspectos. Não há como aceitarmos tal proposta de estudo de rastreamento de origem", disse Zeng em coletiva de imprensa.
A OMS também recomendou o aprofundamento da investigação de outras teorias, como a hipótese de que a doença surgiu a partir do contato humano com um animal infectado.
O oficial do regime chinês afirmou ainda que não são verdadeiras as alegações de que funcionários do laboratório de Wuhan teriam ficado doentes em novembro de 2019, em referência à informação do serviço de inteligência americano. Ele também observou que a primeira investigação de especialistas da OMS, conduzida no país no começo deste ano, concluiu que a hipótese do "vazamento de laboratório" era "extremamente improvável".
Sobre isso, o diretor da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, admitiu na semana passada que, na primeira fase de investigação, "houve muita pressão" para descartar a versão de que a propagação do novo coronavírus começou com um acidente em laboratório. "Para excluí-la [a hipótese], é preciso informações mais completas", afirmou Tedros durante a coletiva de imprensa em 15 de julho.
O diretor-geral da OMS também admitiu que "acidentes de laboratório podem acontecer" e garantiu que ele mesmo, trabalhando no passado com imunologia, passou por esse tipo de situação. "Revisar o que aconteceu é importante. Precisamos de informação direta sobre a situação destas instalações antes da pandemia e no começo dela", afirmou.
Ao longo de 2020, a origem da Covid-19 se tornou uma questão diplomática para China e Estados Unidos, deteriorando ainda mais a relação entre os dois países. Os EUA e aliados acusam a China de ser pouco transparente em relação ao que ocorreu nos primeiros dias e meses em que o Sars-CoV-2 foi identificado.
Com a troca de governo na Casa Branca em janeiro deste ano, a OMS também passou a exigir maior colaboração da China. Na mesma coletiva em que disse que acidentes de laboratório podem acontecer, Ghebreyesus pediu que a China informe melhor sobre os primeiros casos de Covid-19 no país.
"Pedimos à China que seja transparente e aberta, que coopere, especialmente, apresentando os dados brutos sobre os primeiros dias da pandemia", disse o líder da organização.
A China acusa os americanos de usarem o assunto como arma política, mas divulga suas próprias teorias sobre a origem do surto em Wuhan – como a de que o vírus estava presente em alimentos congelados que chegaram do exterior para serem vendidos em mercados em Wuhan ou a versão de que o Sars-CoV-2 foi criado em um laboratório militar americano.
Na coletiva desta quinta-feira, Zeng disse que a investigação sobre a origem da Covid-19 deve ser conduzida também em outros países. "Devemos promover um estudo global envolvendo vários países e locais envolvendo descobertas de casos iniciais, epidemiologia molecular e rastreabilidade do animal hospedeiro (intermediário)".
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