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Eleições

Ortega, adversário dos EUA, lidera apuração na Nicarágua

Daniel Ortega, ex-revolucionário marxista e adversário dos Estados Unidos na Guerra Fria, parece estar a caminho da volta à presidência da Nicarágua, segundo os primeiros resultados divulgados nesta segunda-feira.

Com resultados de 15 por cento das seções eleitorais, Ortega, 60, tinha pouco mais de 40 por cento, o que lhe daria uma vitória no primeiro turno. Ele estava à frente do conservador Eduardo Montealegre, candidato favorito de Washington, que tinha 33,3 por cento.

Milhares de simpatizantes sandinistas começaram a soltar fogos de artifício e saíram às ruas com bandeiras nas cores preto e vermelho. Dirigentes do partido se abraçaram e alguns choraram de alegria em uma festa em Manágua.

Ortega, que pode perder se a eleição for para o segundo turno, garante a vitória com 35 por cento e pelo menos 5 pontos de liderança sobre o adversário mais próximo.

Montealegre recusou-se a reconhecer a derrota e disse que as eleições tinham irregularidades. José Rizo, do Partido Liberal, que está no governo, mantinha-se bem atrás, em terceiro.

Esta é a terceira tentativa de Ortega de voltar ao poder desde 1990, quando seu governo revolucionário sandinista foi derrubado por eleitores, em meio a uma profunda crise econômica e depois da guerra civil dos anos 1980 contra os rebeldes ''Contra'', treinados e financiados pelos EUA.

``Temos que deixar para trás todos os problemas sérios que nosso país sofreu no passado, e seguir adiante'', disse Jaime Morales, candidato a vice de Ortega e ex-líder dos Contra, que aderiu ao ex-inimigo neste ano.

Ortega liderou a revolução de 1979 que derrubou o ditador Anastasio Somoza, que tinha apoio dos EUA, e depois construiu uma aliança com a União Soviética e com Cuba.

Uma vitória de Ortega será um golpe duro para o governo dos EUA, que advertiu os eleitores da Nicarágua sobre um possível corte na ajuda e nos investimentos se ele voltasse ao poder.

Bloco contra EUA

Apesar de ter diminuído o tom da retórica esquerdista, Ortega preocupa Washington pela possível união com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e com o líder cubano, Fidel Castro, no bloco de oposição aos EUA na América Latina.

Autoridades norte-americanas na Nicarágua disseram que detectaram irregularidades na votação de domingo e recusaram-se a endossar a eleição até o recolhimento dos votos e a investigação de atrasos na abertura e adiantamento do fechamento de postos eleitorais.

Roberto Rivas, chefe da comissão eleitoral, disse que a eleição foi clara e transparente.

Ortega tinha 40,04 por cento dos votos na contagem. Se não ganhar no primeiro turno, Ortega pode perder no segundo, já que muitos conservadores que votaram em Rizo mudariam para Montealegre.

Uma vitória encerraria 16 anos de governos conservadores, que tiveram apoio dos EUA e incentivaram reformas de mercado, mas não conseguiram lidar com a pobreza.

Os conservadores conseguiram manter Ortega fora do poder apresentando candidatos únicos nas eleições, mas desta vez concorreram divididos.

Ortega é a figura mais polêmica da Nicarágua, rejeitado por muitos, mas admirado por outros que ainda se identificam com os programas sandinistas de saúde e educação, que amenizaram brevemente a pobreza antes da guerra civil e do embargo dos EUA que quebraram a economia.

``Eles nunca deixam Ortega governar'', disse Adela Martínez, de Manágua, sobre Washington e os ``Contras.'' ``Vamos dar-lhe outra chance.''

Críticos ainda se lembram do sangue, do racionamento, da hiperinflação e das políticas duras do regime sandinista.

``Um dia eles levaram o meu filho, e eu nunca voltei a vê-lo'', disse Maria Elena Sánchez, de 66 anos, ao lembrar-se do filho de 17 anos retirado de casa pelo Exército.

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