O ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, acusou nesta segunda-feira (26) o Vaticano de fazer parte de um “conglomerado do fascismo”. A declaração do líder do regime sandinista ocorre em meio a tensas relações entre a ditadura da Nicarágua e a Igreja Católica.
Durante uma cúpula virtual com os chefes de Estado da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA), o ditador Ortega alegou que o Vaticano é um Estado “claramente a favor do império”, em alusão aos Estados Unidos. Ortega não apresentou provas para basear sua declaração.
O ditador nicaraguense também acusou a Santa Sé de ter sido “cúmplice dos nazistas” na Alemanha e dos fascistas de Espanha e Itália no século passado.
“O Vaticano é um instrumento a mais em todas essas batalhas que estamos travando [no mundo], um instrumento a mais que faz parte do conglomerado do fascismo que, em novas formas, quer dominar o mundo”, disse Ortega.
As acusações foram feitas um dia depois de o papa Francisco incentivar o povo da Nicarágua a renovar sua esperança em Jesus Cristo, após Ortega reprimir, prender e expulsar diversos sacerdotes em várias partes do país centro-americano.
“Ao amado povo da Nicarágua, eu os encorajo a renovar sua esperança em Jesus, lembrem-se de que o Espírito Santo sempre guia a história para projetos mais elevados”, disse o pontífice depois da oração do Angelus dominical, na janela do Palácio Apostólico.
"Que a Virgem Imaculada os proteja nos momentos de provação e os faça sentir sua ternura maternal. Que Nossa Senhora acompanhe o amado povo da Nicarágua”, acrescentou.
As relações entre o regime de Ortega e a Igreja Católica estão sob forte tensão, marcada pela expulsão e prisão de padres, pela proibição de atividades religiosas e pela suspensão das relações diplomáticas.
Mais de 240 religiosos foram forçados ao exílio ou expulsos da Nicarágua desde as manifestações populares que ocorreram contra o regime sandinista em abril de 2018, de acordo com o estudo “Nicarágua: Uma Igreja Perseguida?” da pesquisadora exilada Martha Patricia Molina.
Em agosto de 2023, Ortega ordenou a dissolução e expropriação de patrimônio, no país centro-americano, da Companhia de Jesus, uma ordem à qual o próprio papa Francisco pertence.
Meses antes, o pontífice havia criticado o regime de Ortega como uma “ditadura grosseira”, após a condenação do bispo nicaraguense Rolando Álvarez.
A ditadura da Nicarágua concordou com a Santa Sé em libertar alguns clérigos presos no país e transferi-los para o Vaticano, como aconteceu em janeiro com os bispos Rolando Álvarez e Isidoro Mora, além de outros 15 padres e dois seminaristas.