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O ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, lançou uma série de ataques e insultos verbais contra os presidentes de esquerda da Colômbia, Gustavo Petro, e do Chile, Gabriel Boric, após o líder colombiano expressar solidariedade a uma opositora que teve seus bens confiscados pelo regime da Nicarágua e após o chefe do Executivo chileno elogiar a polícia do seu país, criticada pelo sandinista.
Em um discurso durante um desfile policial em comemoração ao 44º aniversário da constituição da Polícia Nacional da Nicarágua, realizado na terça-feira (12), Ortega chamou Petro de "lixo e traidor" e o acusou de liderar um "Estado cúmplice do narcotráfico".
Ortega se referiu assim a Petro após o presidente colombiano expressar sua solidariedade à escritora e poeta nicaraguense Gioconda Belli, que teve sua casa em Manágua expropriada pelo regime sandinista.
Junto à mensagem de solidariedade, Petro também comparou Ortega ao falecido ditador chileno Augusto Pinochet, que liderou o país sul-americano de 1973 até 1990.
“Toda a minha solidariedade para Gioconda Belli, poetisa da resistência nicaraguense contra Somoza [ditador deposto pela Revolução Sandinista, em 1979], agora perseguida por Ortega. Que ironia! Aqui, no Chile, visito as casas de poetas chilenos que eram invadidas e [os poetas] assassinados pela ditadura, e Ortega faz o mesmo que Pinochet”, escreveu Petro em sua conta no X (novo nome do Twitter).
Foi após a veiculação desta mensagem que Ortega decidiu não poupar críticas ao presidente da Colômbia no evento militar, afirmando que sua "covardia o transformou em agente do império norte-americano" e que ele traiu aqueles que deram suas “vidas na luta guerrilheira”. Além disso, o ditador sandinista acusou Petro de “trair seus princípios anti-imperialistas” por não ter retirado da Colômbia as bases militares dos Estados Unidos.
Já em relação a Gabriel Boric, presidente do Chile, Ortega o chamou de "pinochetinho" no evento militar desta terça após o Chile ter enviado no mesmo dia uma primeira nota de protesto a Manágua devido às críticas do ditador nicaraguense direcionadas à polícia chilena, conhecida como Carabineros.
Ortega havia dito em outro evento, realizado na segunda-feira (11), que os membros da polícia do país eram “assassinos”.
“Os Carabineros chilenos não são como a polícia da Nicarágua. São formados para assassinatos em massa, formados para assassinar o povo”, disse Ortega.
Durante o evento desta terça, Ortega ainda acusou Boric de "mudar de posição" sobre os Carabineros, afirmando que, quando estava na oposição, ele prometia “acabar com a instituição”, mas agora “a elogia”. O ditador nicaraguense também chamou o Chile de país "ligado ao imperialismo" e disse que a juventude chilena “continua lutando por mudanças”.
Boric reagiu às declarações de Ortega novamente nesta quarta-feria (13), classificando-as como um "insulto", e instruiu outra vez o seu ministro das Relações Exteriores a apresentar uma nota de protesto diplomático contra a Nicarágua em “defesa das instituições chilenas”.