As despesas globais com defesa aumentaram em 2018, chegando a US$ 1,822 trilhão (R$ 7,7 trilhões) – 2,6% a mais do que em 2017, segundo dados do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri), publicados neste domingo (28).
Os Estados Unidos lideram, com enorme vantagem, o ranking de investimentos no campo militar, seguidos pela China, Arábia Saudita, Índia e França – juntos, eles são responsáveis por 60% das despesas globais. A Rússia, pela primeira vez desde 2006, não apareceu entre os cinco primeiros colocados devido a uma queda de 3,5% nos gastos em relação a 2017. Abaixo, veja a lista com os 15 países do topo do ranking.
Ao comparar com o percentual do Produto Interno Bruto (PIB) global, porém, os investimentos em defesa diminuíram ao redor do mundo. Segundo as estimativas do Sipri, eles ficaram em 2,1% do PIB em 2018, uma queda de 0,5 ponto percentual em relação ao ano anterior, continuando a tendência que vem sendo percebida desde 1999.
Estados Unidos
Somente os Estados Unidos são responsáveis por 36% dos gastos militares do mundo, ou seja, quase o mesmo tanto da soma dos outros oito países que estão atrás deles no ranking. No ano passado, eles investiram US$ 649 bilhões, registrando o primeiro aumento nas despesas militares em sete anos - 4,6% em comparação com 2017.
O valor, porém, ainda é 19% menor do que seu pico, em 2010. De acordo com os analistas do Sipri, o processo de aprovação do orçamento do governo dos EUA tem sido particularmente difícil durante a década de 2010, no contexto dos esforços para diminuir o déficit do governo e equilibrar o orçamento do país. “Isso levou a divisões severas e antagônicas no Congresso e entre o Congresso e a administração a respeito dos recursos dedicados aos militares dos EUA”, aponta o Sipri.
China
A China é o segundo país que mais investe em defesa no mundo. No ano passado, o país destinou US$ 250 bilhões para as suas forças armadas, um valor que é quase 10 vezes mais do que foi investido em 1994.
Foi o 25º ano consecutivo em que os chineses registraram um aumento nos gastos com defesa, mas esses investimentos estão desacelerando – o crescimento de 5% em 2018 foi o menor desde 1995.
A taxa anual de crescimento dos gastos militares da China tem diminuído de forma constante desde que atingiu um pico de 9,3% em 2013. Segundo o Sipri, isso ocorre porque a China seguiu uma política de vincular as despesas militares ao crescimento econômico, portanto o movimento é natural, já que seu crescimento econômico em 2018 deve cair para o nível mais baixo nos últimos 28 anos.
Rússia
Enquanto os Estados Unidos respondem por 36% do gasto militar global, a Rússia gasta apenas 3,4%. O orçamento com defesa foi de US$ 61,4 bilhões em 2018.
O exército russo ainda é considerado uma das forças mais poderosas do mundo, motivo pelo qual os estrategistas europeus de defesa continuam preocupados com o fato de o país poder teoricamente invadir o continente em questão de dias: o Kremlin comanda mais de um milhão de soldados ativos – em comparação aos cerca de 180 mil da Alemanha – e os gastos militares da Rússia no ano passado eram 27% mais altos do que há uma década.
Mas os números indicam que anos de operações militares russas no exterior, sanções ocidentais e queda nos preços mundiais do petróleo deixaram uma marca. O Kremlin financiou um importante programa de modernização a partir de 2010, que resultou em um aumento nas despesas da Rússia, mas os gastos anuais caíram substancialmente nos últimos dois anos após a conclusão do projeto.
O relatório do Sipri aponta ainda que, devido a um pagamento único de uma dívida do governo de quase US$ 11,8 bilhões para os produtores de armas russos em 2016, os gastos subiram 7,2% naquele ano; sem esse pagamento, os gastos militares russos teriam caído 11%. Esse pagamento também explica grande parte da forte queda de 19% em 2017. Se não fosse isso, os gastos teriam diminuído 2,8%. No ano passado, os gastos da Rússia caíram novamente (3,5%), mas ainda são 27% mais altos do que em 2009.
União Europeia
Enquanto isso, na União Europeia, a recente modernização russa e as preocupações mais amplas sobre o alcance do Kremlin desencadearam um aumento nos gastos militares que só agora se materializam completamente nas estatísticas, segundo o Sipri.
O aumento dos gastos militares no bloco também pode ser devido à pressão crescente dos EUA para cumprir sua obrigação dos membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de investir 2% do PIB, que muitos estados-membros não cumprem.
Os gastos militares da Alemanha cresceram em 2018, chegando a US$ 49,5 bilhões, mas isso representa apenas 1,2% de seu PIB. O país pretende desempenhar um papel maior na segurança global e planeja aumentar suas despesas militares para 1,5% do PIB até 2025. A França, por outro lado, viu seu investimento em defesa diminuir em 2018 depois de quatro anos de crescimento. Os gastos militares do país somam US$ 63,8 bilhões. O Reino Unido gastou US$ 50 bilhões e, segundo o instituto, não está claro se este valor será suficiente para sustentar o programa de modernização de armas do país a longo prazo.
Irã
Além da Rússia, outros inimigos norte-americanos frequentemente citados em Washington, como o Irã, desaparecem da mesma forma em comparação com os investimentos militares americanos. Os Estados Unidos gastaram 50 vezes mais em defesa no ano passado do que o Irã (US$13,2 bilhões), que registrou uma queda de 9,5% nas despesas militares entre 2017 e 2018 devido à recessão e à inflação que chegou a 30% no ano passado.
Israel
As despesas militares de Israel somaram US$ 15,9 bilhões em 2018, um aumento de 0,7% em comparação com 2017. Após um pico em 2015, relacionado a operações militares em 2014 na Faixa de Gaza, as despesas militares israelenses diminuíram 13% em 2016 e 1% em 2017.
Turquia
Outro país que merece destaque é a Turquia. Em uma década, os gastos militares do país aumentaram em 65%, chegando a US$ 19 bilhões em 2018 – somente nesse ano, os gastos cresceram 24% em relação a 2017, o maior aumento registrado entre os 15 países que mais investem em defesa. Isso se explica, segundo o relatório do Sipri, pelo rápido aumento do financiamento para aquisição de armas em 2018 e pela expansão de sua operação militar contra grupos armados curdos na Síria.
Brasil e América do Sul
O Brasil figura em 12º lugar no ranking dos países que mais investem em defesa. De 2017 a 2018, as despesas aumentaram 5,1%, apesar da crise econômica, chegando a US$ 27,8 bilhões (R$ 109,4 bilhões). Na última década, os gastos militares do Brasil cresceram 17%.
Entre os países americanos, o Brasil fica atrás apenas dos Estados Unidos. Até 2013 o segundo lugar costumava a ser ocupado pela Venezuela, mas os gastos militares do país vizinho começaram a despencar devido a uma severa crise econômica – caíram 71% entre 2013 e 2017. Para 2018, o Sipri não estimou as despesas das forças armadas da Venezuela em dólares ou como parcela do PIB devido à falta de dados confiáveis.
Os gastos militares sul-americanos cresceram 3,1% (para US $ 55,6 bilhões) em 2018, o segundo aumento anual desde 2014. Os gastos militares na América do Sul foram 16% mais altos em 2018 do que em 2009.
Os países com as maiores despesas militares na América do Sul, depois do Brasil (50%), são Colômbia (19%), o Chile (10%) e a Argentina (7,5%). Juntos, eles representavam cerca de 87% dos gastos da região em 2018 – que aumentou 3,1% em 2018.