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Curitiba – Os 25 anos do surgimento do Solidariedade, comemorados hoje na Polônia, permitem aos historiadores uma avaliação mais precisa do movimento. O consenso é de que a organização sindical continua sendo uma das mais importantes da história contemporânea, por ter mobilizado cerca de 10 milhões de pessoas e determinado a queda da ditadura leninista imposta à Polônia. Mas para quem ajudou a criar o movimento e conheceu suas limitações, o Solidariedade é também uma referência que poderia inspirar soluções para problemas atuais.

O ex-líder sindical polonês Jersy Brzozowski, que atua como professor visitante da Universidade Federal do Paraná (UFPR) há um mês, afirma que a união nacional foi o fator determinante, para, após dez anos, conseguir transformar a Polônia em um país democrático.

Brzozowski atuou nos bastidores do Solidariedade e conta que o movimento surgiu de uma situação "banal". "O governo elevou o preço da carne em cerca de 20% e isso desencadeou as greves desordenadas nas principais cidades da Polônia em 1980."

As primeiras reivindicações dos grevistas eram pontuais, não pediam a queda da ditadura. "A primeira cobrança foi pela readmissão de uma líder sindical (a militante anticomunista Anna Walentynowicz). Depois, pediam aumento de salário e folga aos sábados (além dos domingos). Só mais tarde a organização ampliou suas exigências."

As greves de Gdansk, em agosto de 1980, foram suficientes para que, no dia 31, o governo comunista desse aos trabalhadores o direito de criar uma organização sindical, o "Solidarnosc" ou, em português, o Solidariedade.

Brzozowski conta que o principal líder do movimento, Lech Walesa – que se tornaria o primeiro presidente polonês depois de 45 anos de domínio soviético – estava disposto a negociar o fim das greves quando foi convencido de que a mobilização tinha força para dar respaldo a mudanças abrangentes. "Um comitê de líderes sindicais mostrou que o movimento podia ir além. A veemência das mulheres também foi decisiva", relembra.

Segundo ele, o Solidariedade já estava bastante enfraquecido quando a visita do Papa João Paulo II à Polônia, em 1983, deu força ao movimento. "Não tenham medo", disse o Papa polonês em um recado que indicava seu apoio à luta do sindicato.

"O que vale lembrar é que o Solidariedade representou a união e que mudou a história da Europa diante da ameaça da ditadura comunista", diz o professor Brzozowski, que foi cônsul da Polônia em Curitiba entre 1991 e 1994.

Em sua avaliação, a crescente preocupação com o desemprego na Polônia atualmente mobiliza igrejas, organizações sociais, mas o sentimento de solidariedade parece escasso, considerando a experiência de 25 anos atrás. O próprio anúncio de Walesa, de que vai deixar o Solidariedade assim que terminarem as comemorações do 25.° aniversário da organização, seria outro indício da falta de articulação. "Não há clima de união nacional. No capitalismo, as reivindicações de um grupo têm pouca repercussão."

Para ele, Walesa é imprevisível e talvez não tenha desistido da política, apesar de não ter mais apoio de nenhum grande partido. A importância histórica do homem que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1983 por sua luta pela democracia será a que já se conhece atualmente, avalia.

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