Vinte e seis segundos de gravação eternizaram, nas mentes de espectadores americanos e estrangeiros, o assassinato de John Fitzgerald Kennedy, o 35.º presidente dos EUA, num desfile em carro aberto em Dallas, Texas, há exatos 50 anos.
O filme, gravado pelo empresário Abraham Zapruder com uma câmera Bell & Howell em 8 mm, é tão icônico quanto o protagonista, não só pelo valor histórico. Visto e revisto ao redor do mundo há cinco décadas primeiro em fotogramas publicados na revista Life em 1963 e posteriormente na tevê, a partir de 1975 , o registro transformou o trágico fim em produto de massa.
O desfecho casa perfeitamente com a trajetória midiática de JFK. Político ambicioso, com apoio da família e da mulher, Jacqueline, ele se valeu da mídia em cada etapa da carreira para forjar a imagem que conquistou os EUA.
Fez da televisão ferramenta de promoção pessoal e arma das políticas doméstica e externa. Em vida e na morte, Kennedy foi um presidente-espetáculo.
Os ensinamentos vieram de casa. A matriarca Rose era filha de um ex-prefeito de Boston e entendia as necessidades da vida pública: estar nos holofotes, transitar na imprensa e frequentar as páginas dos jornais. Já o patriarca Joseph foi produtor de Hollywood na década de 1920. Sabia os ângulos e gestos perfeitos, a linguagem de maior apelo e a melhor forma de vender uma ideia. Foi assim que o casal construiu a imagem de clã e dinastia que serviria a JFK anos mais tarde: desde 1938, a Life registrava os nove filhos dos Kennedy. Quando John tornou-se a opção familiar na política, os pais sabiam que sua juventude, estirpe cosmopolita e seu passado de herói de guerra eram ativos.
Mais do que uma estratégia de marketing, a criação cuidadosa da imagem de Kennedy tinha função vital para a ambição política do clã: mascarar o fato de que ele passara a juventude tratando uma doença degenerativa nas costas que o perseguiu até a morte.
JFK, diante de desafios, crescia na fala e na ação
Eleito em 1960 com uma ampla agenda doméstica, que incluía a ampliação da assistência social a pobres e idosos, investimento em educação, fortalecimento da economia e igualdade de direitos, John Fitzgerald Kennedy morreu longe de encaminhar plenamente sua plataforma, engolida pela política externa.
JFK, para analistas, foi um líder como poucos, que crescia nas dificuldades, na retórica e na ação, usando esta qualidade nos mais difíceis momentos de sua Presidência. São os casos da invasão da cubana Baía dos Porcos, em abril de 1961, maior mancha de seu governo, e da Crise dos Mísseis em Cuba, em outubro de 1962, cuja saída negociou habilmente com os soviéticos, ignorando sua junta militar, para evitar uma catastrófica guerra nuclear.
Nasa
Os soviéticos, no fim dos anos 50 e início dos 60, estavam na dianteira da conquista do espaço, e Kennedy tinha convicção de que ultrapassar os adversários era estratégico tanto do ponto de vista interno, com o desenvolvimento tecnológico e científico associado, quanto externo, no âmbito da Guerra Fria.
Após a posse em 1961, a Casa Branca deu diretrizes e recursos à Nasa, a agência espacial americana. Oito anos depois, Neil Armstrong colocou os pés na Lua.
Mas Kennedy, evidentemente, não escapa das controvérsias. A luta pelos direitos civis dos negros é um dos maiores contenciosos. Ele era adepto da causa, mas adotou uma postura pragmática, evitando mexer na legislação.
A maioria dos especialistas, porém, discorda que Kennedy tenha abandonado a luta pelos direitos civis.
Divisão
O presidente JFK enfrentava grande divisão no Partido Democrata, entre os progressistas do Norte e os sulistas segregacionistas. Para a reeleição, ele precisaria dos votos do Sul. Para alguns historiadores, Kennedy escolheu deliberadamente a agenda externa da Guerra Fria em detrimento dos direitos civis.