Midiático
Presidente soube fazer propaganda muito bem, e com a ajuda da mulher
JFK levou sua estratégia midiática para a Casa Branca. Além das fotos de Jacques Lowe, que o acompanhou desde sempre, Kennedy abriu as portas da residência oficial.
Bela, culta e viajada, Jackie foi um diferencial na projeção de Kennedy desde o princípio. A primeira-dama orientava o marido a se vestir e a aparecer em certos eventos que poderiam ter grande retorno político. Jackie também convidava artistas à residência oficial, o que acentuava a imagem moderna do casal e ajudava, às custas das celebridades, a vender a agenda do presidente.
"Isso tudo pôs a sede do Poder Executivo dos EUA no centro do palco. Foi uma tática muito bem planejada, pois também era um objetivo alcançar as áreas dominadas pela União Soviética e os países do Terceiro Mundo. Abrir a Casa Branca projetava uma imagem simbólica de liberdade e democracia", explica a historiadora Barbara Perry, uma das maiores especialistas em Kennedy dos EUA.
Formação
Líder democrata também teve de aprimorar a retórica e a oratória.
Sotaque
Estudante mediano, dedicou-se ao entendimento das grandes questões nacionais e internacionais e à melhor forma de comunicá-las a audiências de diferentes formações. Teve de trabalhar duro em cada detalhe para garantir seu lugar no panteão de grandes oradores da Casa Branca. Como senador, ainda adotava tom pomposo e carregava no elitista sotaque de Boston.
Slogans
Na campanha presidencial de 1960, JFK estava afiado. Suas aparições eram cuidadosamente preparadas e documentadas. Os slogans eram simples, mas projetavam precisamente a imagem de renovação e inauguração de uma nova era, sintetizados em frases como "Liderança para os anos 60. Kennedy presidente".
Fotógrafo
Kennedy era acompanhado também pelo fotógrafo Jacques Lowe, autor de mais de 40 mil cliques de JFK, Jackie e os filhos entre 1958 e 1961. Lowe teve papel fundamental na formatação da mensagem de Kennedy.
Midiático
A destreza no contato pessoal se estendia ao uso do rádio e, sobretudo, da tevê. O clã tinha exata noção da importância crescente da nova mídia. Em apenas uma década, o número de lares com televisão havia pulado de 12% para 80%.
Debate
O maior retorno do investimento veio no enfrentamento do republicano Richard Nixon. No primeiro debate presidencial nos EUA transmitido ao vivo pela tevê, as telas exibiam um Kennedy jovial, com sorrisos e gestos naturais. De frente para ele, estava um Nixon envelhecido, suando em bicas e atrapalhado. Para os historiadores, o episódio decidiu as eleições.
Vinte e seis segundos de gravação eternizaram, nas mentes de espectadores americanos e estrangeiros, o assassinato de John Fitzgerald Kennedy, o 35.º presidente dos EUA, num desfile em carro aberto em Dallas, Texas, há exatos 50 anos.
O filme, gravado pelo empresário Abraham Zapruder com uma câmera Bell & Howell em 8 mm, é tão icônico quanto o protagonista, não só pelo valor histórico. Visto e revisto ao redor do mundo há cinco décadas primeiro em fotogramas publicados na revista Life em 1963 e posteriormente na tevê, a partir de 1975 , o registro transformou o trágico fim em produto de massa.
O desfecho casa perfeitamente com a trajetória midiática de JFK. Político ambicioso, com apoio da família e da mulher, Jacqueline, ele se valeu da mídia em cada etapa da carreira para forjar a imagem que conquistou os EUA.
Fez da televisão ferramenta de promoção pessoal e arma das políticas doméstica e externa. Em vida e na morte, Kennedy foi um presidente-espetáculo.
Os ensinamentos vieram de casa. A matriarca Rose era filha de um ex-prefeito de Boston e entendia as necessidades da vida pública: estar nos holofotes, transitar na imprensa e frequentar as páginas dos jornais. Já o patriarca Joseph foi produtor de Hollywood na década de 1920. Sabia os ângulos e gestos perfeitos, a linguagem de maior apelo e a melhor forma de vender uma ideia. Foi assim que o casal construiu a imagem de clã e dinastia que serviria a JFK anos mais tarde: desde 1938, a Life registrava os nove filhos dos Kennedy. Quando John tornou-se a opção familiar na política, os pais sabiam que sua juventude, estirpe cosmopolita e seu passado de herói de guerra eram ativos.
Mais do que uma estratégia de marketing, a criação cuidadosa da imagem de Kennedy tinha função vital para a ambição política do clã: mascarar o fato de que ele passara a juventude tratando uma doença degenerativa nas costas que o perseguiu até a morte.
JFK, diante de desafios, crescia na fala e na ação
Eleito em 1960 com uma ampla agenda doméstica, que incluía a ampliação da assistência social a pobres e idosos, investimento em educação, fortalecimento da economia e igualdade de direitos, John Fitzgerald Kennedy morreu longe de encaminhar plenamente sua plataforma, engolida pela política externa.
JFK, para analistas, foi um líder como poucos, que crescia nas dificuldades, na retórica e na ação, usando esta qualidade nos mais difíceis momentos de sua Presidência. São os casos da invasão da cubana Baía dos Porcos, em abril de 1961, maior mancha de seu governo, e da Crise dos Mísseis em Cuba, em outubro de 1962, cuja saída negociou habilmente com os soviéticos, ignorando sua junta militar, para evitar uma catastrófica guerra nuclear.
Nasa
Os soviéticos, no fim dos anos 50 e início dos 60, estavam na dianteira da conquista do espaço, e Kennedy tinha convicção de que ultrapassar os adversários era estratégico tanto do ponto de vista interno, com o desenvolvimento tecnológico e científico associado, quanto externo, no âmbito da Guerra Fria.
Após a posse em 1961, a Casa Branca deu diretrizes e recursos à Nasa, a agência espacial americana. Oito anos depois, Neil Armstrong colocou os pés na Lua.
Mas Kennedy, evidentemente, não escapa das controvérsias. A luta pelos direitos civis dos negros é um dos maiores contenciosos. Ele era adepto da causa, mas adotou uma postura pragmática, evitando mexer na legislação.
A maioria dos especialistas, porém, discorda que Kennedy tenha abandonado a luta pelos direitos civis.
Divisão
O presidente JFK enfrentava grande divisão no Partido Democrata, entre os progressistas do Norte e os sulistas segregacionistas. Para a reeleição, ele precisaria dos votos do Sul. Para alguns historiadores, Kennedy escolheu deliberadamente a agenda externa da Guerra Fria em detrimento dos direitos civis.