As Forças Especiais do Exército israelense já iniciaram as operações dentro de Gaza para neutralizar as ações terroristas do Hamas dentro de seus centros estratégicos| Foto: EFE/EPA/MANUEL DE ALMEIDA
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Desde que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou o estado de guerra contra o grupo terrorista Hamas após o ataque surpresa no final de semana, o Exército israelense opera em uma rápida contraofensiva em Gaza, visando a destruição das estruturas da milícia na região e o resgate dos reféns capturados.

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A resposta imediata das Forças Armadas (FDI) foi iniciar ataques aéreos, atingindo pontos militares estratégicos da organização, que controla há 16 anos o território habitado por palestinos.

Conforme ocorre a retomada das cidades israelenses invadidas pelo Hamas e Israel mantém controle do conflito, a campanha contra o grupo terrorista em Gaza deve ganhar uma nova escalada terrestre nos próximos dias, segundo anunciou o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant.

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“Começamos a ofensiva pelo ar, depois iremos também pelo solo. Estamos controlando a área desde o segundo dia e estamos na ofensiva. Isso só vai se intensificar”, afirmou.

Antes mesmo do anúncio, fontes do governo americano haviam afirmado ao jornal The Washington Post que a próxima etapa da ofensiva israelense deveria ocorrer por terra e “muito em breve”.

De acordo com o porta-voz das forças militares, Israel Richard Hecht, “o país responderá de forma muito severa e agressiva aos ataques e haverá mais perdas. O alcance da guerra será maior e mais severo do que foi visto até o momento”.

O governo israelense ainda não emitiu uma ordem para invasão terrestre em Gaza, no entanto a convocação recorde de 360 mil reservistas nos últimos dias é um grande aceno à construção de uma base ao longo da fronteira de Gaza, antes de uma possível entrada. “Estamos construindo infraestrutura para operações futuras”, disse Hecht.

A última operação das FDI na região de maioria palestina ocorreu em 2014 e durou sete semanas, resultando em dezenas de soldados israelenses mortos e outras milhares de vítimas civis.

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À agência Reuters, o ex-chefe do Conselho de Segurança Nacional de Israel, Giora Eiland, afirmou que os ataques aéreos em Gaza não neutralizaram o Hamas no passado, mas uma ofensiva terrestre poderia ser mais eficaz na destruição da milícia e sua cadeia de comando. “O governo ainda está relutante em decidir sobre tal iniciativa porque pode envolver muito mais vítimas israelenses”.

Obstáculos e estratégias da entrada em Gaza 

Embora Israel tenha uma enorme vantagem em termos da dimensão das forças armadas, tecnologia e sistemas de armas e logística, o Hamas recebeu muitos investimentos ao longo dos anos que permitiram o desenvolvimento de uma estrutura complexa no interior de Gaza, tornando a contraofensiva terrestre israelense um desafio.

Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, o Instrutor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército Brasileiro, major Frederico Salóes, explica como esse processo ocorreu no passado e pode ser projetado para o atual cenário.

O especialista afirma que há dois motivos principais que levam à entrada de Israel em Gaza. Primeiro, a ação mostra uma resposta contundente do país para sua população, que espera um posicionamento firme do governo diante da situação de guerra. Em segundo lugar, é uma medida que segue o padrão militar do Exército em conflitos passados contra o terrorismo.

“É bem provável que haja a entrada de Israel em Gaza por dois motivos: a medida será uma resposta contundente para seu público interno e, conforme for modelada, a invasão vai manter um certo padrão do país em degradar a estrutura de manutenção das forças do Hamas dentro de Gaza”, disse.

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Salóes explica que o Hamas é uma estrutura chamada de ator irregular, assim como outras organizações armadas desvinculadas do Estado. Nesse contexto, há duas formas mais comuns de combater esse tipo de agrupamento.

“Na guerra contra estruturas como o Hamas, você pode focar tanto na destruição do inimigo por meio de uma ação mais agressiva, porém com maiores riscos de danos colaterais, que pode acabar alimentando a defesa da causa dos terroristas por civis. E outra abordagem é centrada no apoio da opinião pública, a posição que Israel adota ao tentar conquistar o amparo social contra as ações do Hamas, mostrando quem é o verdadeiro culpado pela situação, como os palestinos vivem em Gaza sob o poder do grupo, algo que o país tem mostrado por meio de sua propaganda”. 

Segundo o especialista, o grande diferencial desta guerra, que torna a entrada terrestre complexa, é a questão dos reféns levados após a invasão do território israelense e as chances de baixas militares.

“Nesse momento, temos fatores críticos que obrigam o Estado de Israel a modular a intensidade de suas operações, que é a questão dos reféns, situação que limita as ações das FDI diante da crise que isso pode causar no meio internacional. Ao mesmo tempo, uma ação terrestre de investimento casa a casa, com o vasculhamento na busca de terroristas, resultará em muitas baixas dos dois lados, mas principalmente na parte do ator estatal, que sofre mais perdas nesses casos. Se voltamos aos conflitos passados, vemos que a população de Israel resistiu muito ao conflito direto contra o Hamas em 2009, 2012 e 2014, justamente pelas baixas civis”.

De acordo com o especialista do Exército Brasileiro, o país segue um processo operacional formado por algumas etapas que antecedem a ofensiva terrestre: o cerco da região para isolar o inimigo, ação que foi iniciada no segundo dia do confronto; a captura de apoiadores e lideranças do grupo terrorista para neutralização das ações terroristas – o chamado “02” do Hamas foi capturado, bem como parentes e líderes diretos do grupo. Simultaneamente, há ataques aéreos focados em estruturas militares na região administrada pelo Hamas.

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Para que os procedimentos aconteçam ao mesmo tempo, diferentes frentes das forças militares ficam responsáveis pelas operações. Como exemplo, Salóes explicou que as Forças de Operações Especiais são responsáveis por neutralizar as lideranças do grupo dentro de Gaza.

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Apesar da contraofensiva terrestre não ter sido iniciada de forma massiva, o major afirma que já há agentes das tropas especiais dentro de Gaza buscando os reféns e neutralizando as ações terroristas. Lá dentro, eles buscam controlar os centros de comando e instalações de armamento para reduzir a capacidade do ator irregular.

Questão geográfica 

O Hamas tem conhecimento das principais rotas das forças israelenses na região como a passagem de Erez, no extremo norte de Gaza, Bureij, ao sul da cidade de Gaza, onde há campo de visão para o centro de Gaza, e a leste de Khan Yunis, no sul, onde tanques e blindados podem se mover com maior facilidade.

Contudo, essas zonas de acesso usadas por Israel nos conflitos passados, antes rurais, são hoje áreas urbanas, o que torna a questão geográfica outro grande obstáculo para a contraofensiva terrestre planejada por Israel.

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As terras anteriormente agrícolas são formadas por blocos residenciais altos em lugares como Jabaliya e Beit Lahia, que permitiam uma visão panorâmica dos acessos ao norte de Gaza, enquanto a principal estrada norte-sul é delimitada por áreas industriais que o Hamas utilizou defensivamente no passado.

“Nesse aspecto geográfico, o Hamas tem uma capacidade muito boa de superar a capacidade tecnológica de Israel, haja vista o que observamos neste último ataque. O Hamas conhece a área urbana de Gaza e desenvolve uma série de estruturas irregulares no terreno que dificultam a entrada do ator estatal. Por exemplo, os blindados usados pelas FDI não conseguem passar em determinas pontos de acesso, e eles são equipamento importantes para um confronto como esse”, explica o major Salóes.

Segundo especialistas consultados pela Reuters, o grupo terrorista  construiu nos últimos anos uma rede de túneis que possibilita aos terroristas o acesso a esconderijos subterrâneos nos locais de combate. Esses esconderijos, já conhecidos pelas tropas israelenses, são chamados de “Metro de Gaza”.

Embora as tropas de Israel tenham experiência de combate, outro obstáculo encontrado são as minas e mísseis guiados antitanque que são utilizados juntamente a morteiros pelo Hamas.

A milícia palestina formou nos últimos anos um grande arsenal de mísseis antitanque Kornet, que foram utilizados de forma eficaz, inclusive pelo Hezbollah, milícia libanesa inimiga de Israel, contra os principais tanques de batalha israelenses.

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O grupo também desenvolveu drones equipados com munições, do tipo amplamente utilizado na Ucrânia, que podem lançar bombas sobre veículos e tropas.

As tropas de Israel também precisam lidar com os pontos estratégicos do Hamas, incluindo túneis de combate desenvolvidos extensivamente ao longo dos anos e, em alguns casos, equipados com sistemas de comunicação.

Especialistas explicam que, antigamente, as redes de túneis do Hamas eram rudimentares, no entanto seus engenheiros têm agora uma experiência considerável na construção de locais subterrâneos robustos e bem escondidos para utilizar como centros de comando e a partir dos quais conseguem enviar combatentes.

Eles também contam que, embora Israel tenha um dos sistemas de vigilância mais desenvolvidos e bem financiados do mundo, sendo o 18º maior poderio bélico do mundo, os drones civis baratos e facilmente disponíveis adquiridos pelo Hamas deram conta de “nivelar o jogo”.

De acordo com o major Salóes, novas ações terrestres das Forças Armadas de Israel dentro de Gaza devem ocorrer somente com total segurança de que é o melhor caminho para salvar reféns, manter o apoio internacional e reduzir a quantidade de baixas civis e militares.

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Por isso, o especialista acredita que essa será uma guerra longa. “Se olhamos as guerras de Israel contra atores irregulares ao longo da história, não foram conflitos permanentes, foram guerras que duraram semanas, no máximo. Mas contra o Hamas, Israel entende que seja necessária uma operação não só no domínio aéreo e naval, mas também no terrestre, para retirar o controle deles da região, tirando os civis palestinos dessa imposição, reconstruindo as estruturas básicas destruídas, enfim, ações que podem levar até uma década em busca de uma paz duradoura na região”.

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