As manchetes do fim de semana foram sombrias. “Pelo menos 54 feridos e 11 mortos, em 7 tiroteios em massa separados neste fim de semana”, destacava o portal Axios. Na NBC News se lia: “Pelo menos 12 mortos em mais um fim de semana de tiroteios em massa em toda a América”. “Pelo menos 12 mortos em 10 tiroteios em massa nos EUA no fim de semana”, informava o Yahoo! Notícias.
As manchetes são claramente projetadas para criar a impressão de que os Estados Unidos estão experimentando um Buffalo ou Uvalde quase todos os dias. Não é verdade. Nenhum dos tiroteios no fim de semana teve algo em comum com esses eventos horríveis. Até onde pude determinar, nenhum foi executado com um fuzil AR-15 e a maioria envolveu brigas entre pessoas em festas, dentro ou ao redor de bares, com muitos tendo as características de tiroteios de gangues.
O primeiro incidente, narrado pela Axios, envolveu dois carros que pararam em uma festa de formatura em Summerton (Carolina do Sul) e abriram fogo, matando um e ferindo outros sete. Quase todas as vítimas eram adolescentes. De acordo com a polícia, foi um tiroteio relacionado a gangues, consequência de tiroteios anteriores.
A violência cotidiana de adolescentes atirando em adolescentes em disputas mesquinhas e vinganças relacionadas a gangues não deve ser minimizada – na verdade, é uma praga significativa na vida americana, afetando desproporcionalmente jovens afro-americanos e tornando certos bairros do país inabitáveis. Mas eles são uma categoria diferente do que comumente pensamos como um tiroteio em massa.
Há uma diferença entre o fenômeno de um jovem perturbado, que foi inspirado por atiradores em massa anteriores para ir a uma escola ou outro local público e matar o maior número possível de pessoas, e o membro de gangue que visa seus rivais.
Os primeiros são eventos relativamente raros e únicos para uma comunidade e para a nação em geral, sendo, infelizmente, muito difíceis de combater.
Os últimos são muito mais comuns, geralmente não ganham atenção nacional e são mais suscetíveis a iniciativas anticrime padrão, incluindo mais policiamento e processos judiciais sólidos.
Uma característica bizarra do debate sobre homicídios por armas de fogo é que as mesmas pessoas que acreditam fervorosamente que precisamos decretar medidas de controle de armas, com pouquíssimo efeito sobre a primeira categoria de tiroteios, tendem a ser hostis ou indiferentes a medidas que, inquestionavelmente, diminuirão a última categoria de tiroteios.
O Golden State Warriors e o Boston Celtics usavam camisas com a frase “End Gun Violence” [pedindo o fim da violência armada], antes do jogo das finais da NBA, outra noite. Esse sentimento é anódino e politicamente correto o suficiente para ser perfeito para atletas profissionais, mas slogans não realizam nada, e as medidas usuais de controle de armas não vão “acabar” com a violência armada.
Esses mesmos jogadores presumivelmente não ousariam usar camisetas pedindo a adoção de políticas para impedir que jovens atirem em outros jovens no ciclo de violência desanimador e muito mais rotineiro do país – “Apoiar mais policiamento”, “Processar crimes com armas” ou “Prender infratores reincidentes”, por exemplo. Isso causaria um alvoroço nos círculos polidos e seria considerado totalmente inaceitável.
O fato é que o controle de armas é ideologicamente compatível com a mídia e a esquerda, enquanto prender pessoas não é.
É difícil dizer exatamente quantos homicídios por armas de fogo no país estão relacionados a gangues (entre outras coisas, as testemunhas relutam em falar). Mas o Centro Nacional de Gangues do Departamento de Justiça, no que é quase certamente um número subestimado, relata que houve cerca de 2 mil homicídios de gangues anualmente, de 2007 a 2012, representando cerca de 13% de todos os homicídios. Em Chicago e Los Angeles, cerca de metade de todos os homicídios foram relacionados a gangues.
Se vamos levar esses assassinatos mais a sério, isso é uma coisa boa. Políticas duras contra o crime, bem como medidas anti-gangues mais personalizadas, como prisões simultâneas direcionadas, mostraram ter efeito. Não faz sentido fazer pose contra a violência armada em geral, sem enfrentar esse flagelo em particular – a menos que o objetivo seja fazer pose.
Rich Lowry é editor-chefe da National Review.
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©2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.