Entrevista com Wiltrud Roesch-Metzler, vice-presidente da ONG católica Pax Christi.
Autora do livro Ohne Wasser, ohne Land, ohne Recht ("Sem água, sem terra e sem direito"), sobre Gaza, Wiltrud Roesch-Metzler (vice-presidente da ONG católica Pax Christi, co-organizadora do comboio de navios atacado por Israel), diz que os ativistas levavam apenas produtos para ajudar a população de Gaza. Para ela, a comunidade internacional não pode ficar indiferente à violência militar contra civis desarmados.
O governo de Israel havia adiantado que não deixaria os navios passar.
Sim, sabíamos disso. Também em outras ações semelhantes o governo dizia o mesmo mas, apesar disso, já conseguimos levar a ajuda até a população de Gaza. Eles ficam muito animados quando recebem a nossa ajuda, porque veem que o resto do mundo não os esqueceu.
Poderia dizer alguma coisa sobre a carga dos navios?
Os navios carregavam apenas produtos para ajudar à população palestina. Nós enviamos peças pré-fabricadas para a construção de casas, cadeiras de roda elétricas, equipamentos hospitalares e alimentos. Os seis passageiros alemães, entre eles as deputadas federais Inge Höger e Annette Groth, deveriam voltar amanhã para a Europa.
Quais são os principais problemas em Gaza?
A população vive há três anos em uma prisão coletiva. São 1,5 milhão de pessoas em uma pequena faixa, de 8 km de largura por 40 km de comprimento. Um estudo da União Europeia revela que um problema grave é também a sub-nutrição da população, 50% de crianças abaixo de 18 anos de idade. Mesmo quem acompanha de perto a situação não entende direito a política de Israel. Um dia, proíbe a entrada de macarrão na região; no outro, a entrada de leite ou carne. Não há nenhuma segurança de fornecimento de alimentos.
Por que as diversas tentativas, por último até do Brasil, não resultaram num efeito concreto, como o fim do boicote?
Na minha opinião, porque todas as negociações feitas até agora não pressionam Israel o bastante. Nas negociações do "Quarteto", do qual faz parte a União Europeia, é exigido o fim da violência do Hamas, mas de Israel não é exigido o fim do bloqueio.