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Comportamento

Os Sarkozy e a farsa moderna francesa

Carla Bruni em show aéreo: passado ideal para fantasias e boatos | Jean-Paul Pelissier/Reuters
Carla Bruni em show aéreo: passado ideal para fantasias e boatos (Foto: Jean-Paul Pelissier/Reuters)

Paris - Gostando ou não, os franceses se viram imersos nas últimas se­­manas em um novo psicodrama presidencial, apimentado por rumores de infidelidade na in­­ternet, investigações policiais e de inteligência, queixas sobre manipulação da imprensa e complôs estrangeiros, além da eliminação da segurança de uma ex-mi­­nistra da Justiça que era a fa­­vorita da ex-mulher do presidente.

É Tartufo na era do Twitter. Esta farsa francesa começou com um rumor no Twitter, que pode ou não ter sido inventado por alguns jornalistas que cederam à vontade de se comportar mal antes das eleições regionais, nas quais o presidente Nicolas Sar­­kozy e seu partido de centro-di­­reita se saíram muito mal.

Os posts do Twitter foram co­­letados em março por um blog no site do jornal Le Journal du Dimanche, mas não foram im­­pressos. Então, vários jornais es­­trangeiros – especialmente os britânicos e italianos, que reciclam alegremente quase tudo que é publicado aqui – imprimiram matérias com base no blog.

Os boatos, que pareciam uma piada exagerada na época, da­­vam conta de que Carla Bruni, mulher do presidente, estava tendo um caso com um velho ami­­go dela, cantor, en­­quanto Sar­­kozy estava supostamente envolvido com uma mi­­nistra ca­­sada e campeã de karatê. Con­­siderando a história do casal presidencial, e a dúvida de Carla (quando era mais jovem), tantas vezes citada, sobre sua capacidade de manter a monogamia, a história tomou pernas longas o suficiente para ir bem longe, apesar das negações.

Mas Sarkozy, como sempre, ficou irado. Não apenas o blog foi removido do site do Le Journal du Dimanche, que pertence a um amigo de Sarkozy, Arnaud Lagardère, mas também dois jornalistas envolvidos com o site foram demitidos.

Além disso, Sarkozy aparentemente desconfiou de armação, talvez dos socialistas, para miná-lo antes das eleições, talvez por outras forças, incluindo (como seus assistentes deixaram a en­­tender) seu rival político, o ex-primeiro-ministro Do­­mi­­ni­­que de Villepin, ou os mercados fi­­nanceiros britânicos preocupados com o esforço francês a favor de regulamentações mais duras para o centro financeiro de Lon­­dres.

O presidente francês ordenou uma investigação à agência nacional de inteligência. Depois, o Le Journal du Dimanche entrou com uma queixa criminal, deflagrando uma investigação policial sobre "a introdução de informações fraudulentas em um sistema de computador". O mesmo tema esteve no centro do julgamento de Clearstream, no qual Sarkozy e outros buscaram processar Villepin por conspiração para plantar informações falsas. Villepin foi acusado de planejar uma campanha de difamação em 2003/2004 para minar as am­­bições presidenciais de Sar­­kozy.

A fonte

A investigação dos rumores de infidelidade parecia apontar para Rachida Dati, uma mulher elegante e inteligente, filha de pai marroquino e mãe argelina, como fonte. Embora ela fosse próxima de Sarkozy e sua segunda esposa, Cecília, e tenha servido como sua porta-voz durante sua bem-sucedida campanha presidencial em 2007, Sarkozy a demitiu, exilando-a para um assento no Parlamento Europeu em Bruxelas – onde, diz-se, Dati está extremamente entediada.

A primeira insinuação de que Dati, ex-ministra da Justiça, pu­­desse ser fonte de desagrado presidencial ocorreu quando sua proteção policial (carro e motorista do governo) desapareceu. Ela pediu para manter o carro enquanto terminava uma reunião naquela noite, mas ele foi embora. Quando o ministro do interior e amigo de Sarkozy, Bri­­ce Hortefeux, telefonou para pedir desculpas, ela desligou o telefone na cara dele, diz-se.

O chefe do serviço nacional de inteligência, Bernard Squar­­cini, negou que o telefone de Da­­ti tinha sido grampeado e disse que sua investigação parou quan­­do a polícia interveio.

Mas então Pierre Charon, amigo de Sarkozy e conselheiro de comunicação, foi a público, contando ao site do Nouvel Ob­­servateur que o governo estava começando uma guerra. "Va­­mos fazer desta desgraça uma justificativa para a guerra", ele disse. "Vamos fazer de tudo para garantir que isso não aconteça de novo."

"Como dizem, o medo tem que mudar os campos", afirmou, falando também em "terror". Por alguma razão, os jornalistas do Le Journal du Dimanche e de outros locais interpretaram suas palavras como uma ameaça.

Porém a questão envolvendo Dati não estava terminada. Clau­­de Gueant, importante na gestão de Sarkozy e chefe de equipe, contou ao Le Canard Enchaine que "o presidente já não quer mais ver Rachida Dati". No dia seguinte, no entanto, Gueant, embora tenha confirmado sua afirmação anterior, disse uma frase que pode servir como lema para toda essa história: "A verdade de ontem talvez não seja a de hoje".

Jean-François Cope, líder do grupo parlamentar do partido governista, disse que os deputados estavam "reagindo muito mal" à questão. "Eles realmente não precisam disso no momento", Cope disse ao Le Monde. "Eles estão exasperados por essa nova efusão e estão mais indignados com as afirmações de Pierre Charon."

Carla Bruni tentou acalmar a situação em uma entrevista à rádio Europe 1. Os rumores de infidelidade? "Para mim e para o meu marido, esses rumores são insignificantes", ela disse. "Não há armação. Não há vingança. Não há nada. Viramos a página".

E seu marido? "A preocupação dele é a França e os franceses."

E Dati? "Rachida Dati continua sendo nossa amiga".

Seria "The End" dessa ópera moderna?

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