O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou ontem que a paciência do governo com os protestos tem limites, em um novo desafio aos manifestantes. O discurso foi feito em um evento que reuniu milhares de aliados.
Erdogan mantém o tom de ameaça após dez dias de confrontos entre manifestantes e a polícia em diversas partes do país. Os atos foram convocados após a reação dos agentes de segurança a um protesto contra a construção de um shopping no local de um parque em Istambul, no dia 31.
A reação dos agentes de segurança foi considerada desmedida pelos opositores e causou novos protestos que atraíram outros setores insatisfeitos. Logo após os primeiros confrontos, Erdogan chamou os manifestantes de "saqueadores" e disse que não se intimidaria com as manifestações.
Ontem, no aeroporto de Adana, ele disse que os protestos não são motivo de preocupação, já que a Turquia viveu no passado acontecimentos parecidos. "Ninguém tem que ser pessimista. Ninguém tem que ficar preocupado. A Turquia, que já viveu no passado muitos acontecimentos, também vai superar esse."
Ele pediu que os milhares de aliados que o seguiam na manifestação "ensinem uma lição" aos manifestantes por meio das urnas no próximo ano, quando a Turquia realiza eleições locais e presidenciais.
As manifestações são o maior desafio enfrentado por Erdogan desde que assumiu o poder, em 2003. Até agora, os protestos causaram a morte de dois manifestantes e um policial e deixaram mais de 4 mil feridos.
Desculpas
O tom duro usado por Erdogan, no entanto, não é seguido por seus aliados, que buscam amenizar o discurso e pedir desculpas pela repressão. Ontem, foi a vez do governador de Istambul, Hüseyin Avni Mutlu, pedir perdão aos manifestantes.
"Temos que pedir perdão pelos excessos e os erros individuais que ocorreram. Peço mil perdões", disse, em mensagem no microblog Twitter. O governador é uma das autoridades que os manifestantes querem ver fora do poder.
Repressão
Investigação apura abusos cometidos por agentes Istambul
EFE
Vários agentes policiais turcos foram submetidos a investigação, três deles já suspensos, por um comportamento inadequado durante a onda de protestos antigovernamentais que deixaram dois manifestantes mortos.
O escritório do governador da região de Esmirna confirmou que três agentes que aparecem agredindo manifestantes em fotos e vídeos já foram suspensos, informou o jornal Hürriyet Daily News.
As imagens de um agente que agarra uma jovem pelo cabelo e agride outros pedestres com cassetete foram amplamente divulgadas na Internet.
Vários agentes que estariam vestidos de civis e que teriam atacados manifestantes também estão sendo investigados, sendo que grande parte deles foram reconhecidos pela própria direção da polícia.
A brutalidade da repressão das manifestações que ocorrem há uma semana Turquia foi criticada pela União Europeia, que reivindicou que os responsáveis fossem penalizados, e acabou sendo reconhecida pelo próprio governo turco.
Fontes médicas informaram que mais de 4 mil pessoas ficaram feridas nos confrontos com a polícia em todo o país.
O que começou como uma campanha contra os planos do governo para a reurbanização do Parque Gezi, em Istambul, a maior cidade do país, culminou em uma exposição inédita da revolta contra o autoritarismo do primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, e de seu Partido AKP, de raízes islâmicas.
Além do fim dos planos de remodelação do parque, os manifestantes exigem a demissão dos responsáveis pela violência policial e o fim da proibição de protestos.
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