A notícia do suposto vazamento de uma carta privada que teria sido entregue ao papa Francisco, assinada por 13 cardeais participantes do Sínodo dos Bispos, com duras críticas à assembleia, foi o principal tema na coletiva de imprensa do encontro realizada nesta terça-feira (13), no Vaticano.
O porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, reafirmou que quatro cardeais negaram a autoria da carta, mas não comentou a posição dos demais que aparecem na lista, gerando um clima de incerteza sobre a origem do documento, que teria sido entregue ao pontífice nos primeiros dias do sínodo.
“Quem fez isso, quis provocar confusão. O clima geral da assembleia é, sem duvida, positivo”, afirmou Lombardi.
Além de críticas à nova metodologia do Sínodo e ao Instrumentum Laboris (o texto que traz os temas a serem debatidos durante o encontro), a suposta carta revelaria que um grupo de padres sinodais pretende manipular as decisões da assembleia.
“A lista dos que assinaram está errada e o conteúdo não é aquele. Não sei exatamente o que fizeram, talvez quiseram atribuir assinaturas erradas a um texto equivocado”, disse George Pell, um dos cardeais citados na carta, em entrevista ao site italiano ACI stampa.
Na manhã desta terça-feira, o cardeal Gerhard Ludwig Müller, prefeito da congregação da doutrina da fé, um dos 13 citados pelo vaticanista Sandro Magister, responsável pela publicação da carta, contribuiu para que a dúvida em relação à veracidade do documento permanecesse.
“Eu não digo que a assinei nem que não. O escândalo é que veio a público uma carta privada ao pontífice. Isso é o novo vatileaks. [...] A intenção de quem quis publicar essa carta foi a de provocar tensões e brigas” , disse o cardeal ao jornal italiano “Corriere Della Sera”.
No dia 6 de outubro, o papa Francisco fez um discurso surpresa no qual pediu que os padres sinodais evitassem “teorias da conspiração” em relação à assembleia. Após o vazamento da carta, acredita-se que a afirmação do pontífice foi uma resposta ao abaixo-assinado que ele teria recebido das mãos do cardeal australiano George Pell, o prefeito da Secretaria de Economia do Vaticano.
O secretário-geral do sínodo, cardeal Lorenzo Baldisseri, apresentou no dia 2 de outubro deste ano, após aprovação do papa, a nova metodologia a ser adotada pelo Sínodo ordinário sobre a família de 2015.
Eis os novos procedimentos: há mais espaço para os círculos menores, nos quais os membros do Sínodo são divididos por idioma e participam de debates livres; foi excluída pelo papa a relatio post disceptationem, documento publicado na metade da assembleia que serve de base para o texto final; o pontífice nomeou pessoalmente uma equipe de dez pessoas que redigirão o parecer final da assembleia (isso antes acontecia por votação); e, por fim, todos os participantes, entre padres sinodais, delegados irmãos (de outras religiões) e consultores podem discursar em plenário por três minutos.
De acordo com alguns participantes da assembleia, o novo método ainda é confuso, uma vez que muitos temas vêm à tona através dos círculos menores e das intervenções por parte dos participantes, o que pode gerar confusões em relação à elaboração do relatório final.
“Fazer observações sobre o novo método do Sínodo não é nada de novo. Mas uma vez que ele foi estabelecido, é necessário dar continuidade a ele da melhor forma possível”, disse padre Lombardi.