Ouça este conteúdo
Entre as mais de 6 mil vítimas da Covid-19 na Itália, pelo menos 66 são padres católicos, com idades entre 45 e 104 anos – e isso apenas entre os presbíteros diocesanos, isto é, aqueles ligados ao bispo local e não a uma congregação religiosa. Um terço deles são da Diocese de Bergamo, no norte da Itália, região que está no epicentro da pandemia do novo coronavírus no país.
As dioceses de Milão, Parma, Cremona e Piacenza-Bobbio perderam seis padres cada uma – incluindo, na última delas, os padres gêmeos Mario e Giovanni Boselli, de 87 anos. Entre os presbíteros religiosos mortos pelo coronavírus, cujo número total não é conhecido, se conta inclusive um padre xaveriano de Parma que atuou durante décadas como missionário na periferia de Belém do Pará e em Abaetetuba. Nicola Masi tinha 92 anos e morreu no dia 13 de março.
Em Roma, dois conventos femininos foram isolados. Em um deles, das irmãs angélicas de São Paulo, 19 das 21 freiras foram diagnosticadas com Covid-19. No outro, das irmãs camilianas, são 60 as religiosas com coronavírus. As camilianas, aliás, administram cinco hospitais na Itália, dos quais três estão concentrados em assistir as vítimas da pandemia.
“Em todas as nossas estruturas há irmãs enfermeiras que nesse período arriscam a própria vida com abnegação”, disse a secretária-geral da congregação e diretora de um dos hospitais, irmã Lancy Ezhupara, ao Vatican News. “Nós, filhas de São Camilo, fazemos um quarto voto, além dos três votos clássicos de pobreza, obediência e castidade: o voto de servir os doentes ainda que custe a própria vida. Talvez nos últimos anos, para muitas de nós, esse quarto voto esteve um pouco ofuscado, mas hoje ele voltou com força a ter toda a sua extrema atualidade”.
Uma história em especial tem se destacado nos últimos dias: a do padre Giuseppe Berardelli, da Diocese de Bergamo, que teria morrido depois de renunciar ao uso do respirador para cedê-lo a alguém mais jovem. Embora Berardelli de fato tenha dito, antes de seu quadro se agravar, que “se dependesse de mim, eu preferiria que em vez de mim fossem curados e salvos os mais jovens”, o episódio do respirador não corresponde à realidade.
Jornais locais atribuíram a informação a um funcionário do hospital de Lovere, na província de Bergamo, em que o padre de 72 anos esteve internado e onde morreu, na noite entre 15 e 16 de março. O jornal La Repubblica, porém, disse que a Diocese de Bergamo informou que a história não era verdadeira. O jornal Avvenire, que pertence à Conferência Episcopal Italiana, também desmentiu o episódio.
A morte de Berardelli causou comoção em Casnigo, na mesma província, onde ele era pároco. Ao saber da morte do padre, na segunda-feira (16), a população do município foi às sacadas homenageá-lo com um aplauso. “Era uma pessoa simples, franca, de enorme gentileza e disponibilidade em relação a todos, fiéis e não fiéis”, disse o prefeito de Casnigo, Giuseppe Imberti, a um veículo local. “Era amado por todos”.
Como em todos os outros casos, não houve um funeral para Berardelli. A Conferência Episcopal Italiana pediu que todos os bispos do país dediquem um momento do próximo dia 27 a visitar, sozinhos, um cemitério de suas dioceses, para um momento de recolhimento, oração e bênção.