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"Desafio é reduzir desigualdades"

Concluída a migração das petroleiras para os novos contratos de concessão, o grande desafio do governo boliviano é transformar o aumento de arrecadação em redução das desigualdades sociais que, há séculos, alimentam conflitos entre a população. A opinião é do cientista político da Universidade Católica Boliviana de La Paz (UCB), Gonzalo Chávez, para quem a primeira etapa da nacionalização, completada com a promulgação dos novos contratos, cumpriu o objetivo proposto pelo governo: "garantir aos bolivianos uma fatia maior do bolo da renda do gás".

"O governo precisa trabalhar para que o país siga o exemplo da Finlândia, que cresceu com a indústria extrativa e se tornou uma nação industrial, e não o da Nigéria", aponta Chávez, referindo-se ao país africano que ocupa a 6.ª posição entre os maiores exportadores mundiais de petróleo mas tem a grande maioria de sua população vivendo em intensa pobreza. Segundo ele, o governo Morales tem agora recursos para trabalhar por um desenvolvimento econômico "para todos", embora tenha demonstrado falta de habilidade política para tocar seus projetos.

São Paulo – A Bolívia comemora amanhã um ano da nacionalização do setor de petróleo e gás, ainda sem ter reunido condições para o retorno dos investimentos estrangeiros. Desde o cerco do exército aos campos petrolíferos em 1.º de maio de 2006, o país enfrentou uma série de conflitos políticos que retardou a reorganização do setor.

Apesar de as petroleiras terem assinado sob pressão 44 novos contratos de exploração e produção de gás, nada indica ainda a volta de investimentos, que segundo o governo precisa alcançar pelo menos US$ 3 bilhões para assegurar o fornecimento de todos os contratos – com o Brasil, com a Argentina e para o mercado interno. Depois de um ano da nacionalização, não há qualquer garantia de que isso ocorra no curto prazo.

"Na Bolívia, muita gente acha que nesta terça-feira vão chegar os investimentos, mas é preciso resolver ainda uma série de pendências", afirma Yussef Akly, gerente de coordenação e estratégia da Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos (CBH), entidade que reúne as petroleiras. Ele cita como ponto crucial a expansão da rede de transportes e armazenagem de petróleo e gás, hoje operadas por Transredes e Companhia Logística de Hidrocarbonetos da Bolívia (CLHB). Controladas por companhias privadas, as duas devem passar, aponta a nacionalização, às mãos da YPFB.

A criação de infra-estrutura para escoar a produção é parte do problema. Ao tomar o controle do setor, a YPFB assumiu a responsabilidade de gerenciar toda a estratégia de exploração e produção do setor petrolífero, mas ainda não reuniu condições para isso. Nenhum plano de reestruturação da YPFB, sucateada ao longo dos anos 90, existe.

A Bolívia tem apostado na retomada dos investimentos a partir da vigência dos novos contratos. Segundo Akly, isso é um erro. "Os contratos não definem como o setor petrolífero boliviano vai se desenvolver. Disso depende uma política nacional de desenvolvimento da indústria hidrocarborífera. É algo que não existe", diz Akly.

O atraso dos investimentos pode criar um problema em breve para o país: a incapacidade de garantir o cumprimento dos contratos, mesmo tendo a Bolívia cerca de 26 trilhões de pés cúbicos em reservas, o suficiente para atender o Brasil, o mercado interno (ampliado) e o novo contrato com a Argentina.

Para observadores da política boliviana, o temor é justificado pela inclinação de Morales a medidas contra empresas estrangeiras toda vez que a situação interna na Bolívia se complica.

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