LONDRES - A família de Jean Charles de Meneses percorreu nesta quarta-feira, num clima de profunda comoção, o caminho que o jovem mineiro percorreu no dia em que foi morto - do apartamento em que morava até o interior da estação de metrô onde a polícia o abateu a tiros, após confundi-lo com um terrorista.
Os pais do rapaz, Matosinhos Otoni da Silva e Maria Otoni de Menezes, não contiveram as lágrimas ao chegar ao apartamento onde o eletricista, de 27 anos, vivia, em Tulse Hill. Acompanhados de um irmão de Jean, uma nora e três netos, os pais do mineiro foram dali até a estação do metro de Stockwell, no Sul de Londres.
Depois de visitar a estação do metrô de Stockwell, Maria Otoni desabafou, dizendo que seu filho foi tratado como "um cão raivoso".
- Só Jesus sabe nossa dor e sofrimento - disse Maria Otoni. - Estamos aqui por Justiça.
Jean foi morto com oito tiros - sete na cabeça e um no ombro - dentro de uma composição do metrô, ainda na estação, no dia 22 de julho. No dia anterior, quatro homens haviam tentado, sem sucesso, repetir o atentado do dia 7, quando 52 pessoas morreram, quando quatro suicidas detonaram explosivos em três composições do metrô e em um ônibus. A polícia identificou Jean erroneamente como um dos possíveis envolvidos na tentativa frustrada de atentado e, de início, alegou que o rapaz exibia comportamento suspeito naquela manhã - o que não foi verdade.
A família de Jean chegou pouco depois do meio-dia (hora local; 8h em Brasília) à estação onde Jean foi morto. Uma multidão de jornalistas, curiosos e agentes da polícia reuniu-se em torno deles.
Os pais puderam ver os números bilhetes de apoio, cartazes e flores colocados na estação, no que se transformou num memorial improvisado, desde a morte de Jean.
- Por que mataram meu filho? - gritou Maria Otoni de Menezes, às lágrimas, ao depositar um ramo de margaridas no local, antes de entrar na estação.
A visita ao interior de Stockwell foi fechada ao público. A família pode ir até a plataforma onde estava a composição onde Jean morreu.
A mãe de Jean repetiu declarações feitas à BBC de que o chefe da Scotland Yard, Ian Blair, "fracassou no cumprimento de seu dever" e "tem que pedir demissão". Ela disse não ter dúvidas de que Blair já teria se demitido se a polícia houvesse matado um britânico em vez de um brasileiro.
A família recusou-se no passado a reunir-se com Ian Blair, que disse, momentos depois da morte de Jean, que o caso estava diretamente relacionado com a tentativa de ataque do dia anterior. Mas os pais de Jean devem ser recebidos por ele nesta quarta-feira.
A mãe, que descreveu seu filho com "um rapaz trabalhador", afirmou que os agentes "tiveram tempo para identificar" Jean Charles.
- Eles destruíram a vida dele e, ao mesmo tempo, destruíram a minha - disse Maria.
O pai também reiterou que o plano do filho em Londres era apenas lutar por uma vida melhor, trabalhando.
- Meu filho feito trabalhar, e aconteceu isso a ele. Nossa dor é extrema - disse Matosinhos.
Os parentes do mineiro de Gonzaga receberam manifestações de apoio de várias pessoas nas ruas de Londres. Eles chegaram à cidade na terça-feira, para pedir justiça e se inteirarem do andamento da investigação, que está a cargo da Comissão Independente de Queixas contra a Polícia. Os pais de Jean Charles vão se reunir com representantes da comissão nesta quinta-feira.
O irmão de Jean que acompanha Matosinhos e Maria, Giovani, disse que a família não deixará de insistir na punição dos culpados.
- Queremos ver os responsáveis presos e julgados - disse o irmão, Giovani. - Não acreditamos que as câmeras de TV da estação não funcionavam (no momento em que Jean Charles morreu).
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