Não haverá grande avanço na próxima semana das conversações para estender o pacto de Kyoto sobre o aquecimento global, mas o abrandamento das posições vai resultar num acordo com relação aos próximos passos a serem dados, disseram negociadores de alto escalão à Reuters. Cerca de 189 países estão debatendo uma resposta unificada à ameaça de mudanças climáticas numa conferência de duas semanas que está tendo lugar em Nairóbi.
O Protocolo de Kyoto já deu um primeiro passo muito pequeno em direção à limitação da contribuição humana para as mudanças climáticas, ao impor tetos às emissões de gases causadores do efeito estufa em algumas nações industrializadas.
Cientistas dizem que são necessárias restrições bem mais rígidas para evitar mudanças climáticas catastróficas.
Os países em desenvolvimento já aceitam que o mundo desenvolvido precisa calcular o grau de reduções nas emissões que poderá fazer, com as tecnologias disponíveis hoje.
``Eles próprios propuseram que esse seja o primeiro passo no mapa de trabalho'', disse Michael Zammit Cutajar, diretor do grupo da Organização das Nações Unidas (ONU) criado para planejar o futuro pós-2012 do Protocolo de Kyoto.
``Não creio que haverá datas marcadas. Acho que haverá uma série de passos, sob o entendimento geral de que um acordo será fechado em tempo de ser ratificado pelas partes até o final de 2012.''
A negociadora chefe da União Européia (UE), Outi Berghall, da Finlândia, que ocupa a presidência da UE no momento, também prevê concordância em torno dos próximos passos a serem dados.
``Queremos estabelecer um programa de trabalho e determinar como proceder. Em meu entendimento, isso deve ser possível, porque mesmo no Grupo 77 (dos países em desenvolvimento) entende-se que é necessário um trabalho de análise.''
A UE aceitou cortes a serem implementados até 2012, quando chega ao fim a vigência dos dispositivos de Kyoto.
Os países mais pobres temiam que qualquer atraso nas negociações pudesse intensificar as pressões sobre eles para aceitar reduções obrigatórias em suas próprias emissões.
Eles argumentam que não podem tomar medidas em relação às mudanças climáticas enquanto não conseguirem sair da pobreza.
Mas, segundo Berghall, nem todos os países em desenvolvimento estão na mesma posição. ``Alguns dos países que classificamos como países em desenvolvimento têm um PIB per capita mais alto que alguns países da UE.''
Indagada sobre a Coréia do Sul, por exemplo, ela disse: ''Gostaríamos que ela tivesse um papel maior e que chegasse a assumir compromissos obrigatórios. Seria muito bem-vindo se isso acontecesse.''
No mês passado, o ex-economista chefe do Banco Mundial Nicholas Stern injetou nova urgência no debate em torno das mudanças climáticas, dizendo que a não ação pode desencadear enchentes graves e secas severas, provocar o deslocamento de até 200 milhões de pessoas e causar transtornos econômicos na escala dos que foram causados pela Grande Depressão dos anos 1930.