Potências emergentes como China e Índia, que estão entre os maiores emissores mundiais de gases que provocam o efeito estufa, podem minar os esforços de um acordo mundial de mudança climática, a menos que recebam tratamento especial, disseram autoridades neste sábado.
Nenhum dos dois países tem obrigações sob o atual Protocolo de Kyoto de emissões de gás carbônico. O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, disse que o tratado deveria ser substituído por um acordo mais radical que ``inclua os maiores países do mundo''.
O premiê britânico disse, durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, que um acordo que suceda Kyoto sem a inclusão de compromissos para a China e a Índia seria ineficaz na luta contra o aquecimento global.
``Sem as maiores economias como parte de um sistema para a redução da dependência do carbono, não temos esperanças realistas de sucesso'', disse ele.
O crescimento explosivo da China transformou o país no segundo maior emissor mundial de gás carbônico, atrás apenas dos Estados Unidos, enquanto a Índia está em quarto lugar, de acordo com dados do Instituto de Recursos Mundiais.
O tamanho dessas economias emergentes e seu alto consumo de carvão aumentarão ainda mais sua participação na emissão mundial de gases, disse Jim Leape, líder do grupo ambiental Fundo Mundial da Natureza (WWF).
Ele disse que os países desenvolvidos tiveram que arcar com a maior parte da responsabilidade no combate ao aquecimento global, dado que os gases do efeito estufa atualmente na atmosfera vêm na maior parte de carros e fábricas.
Qualquer novo tratado de mudança climática deve respeitar o direito de economias emergentes de crescer e se desenvolver, ao mesmo tempo em que reconheça que as emissões da China e da Índia poderão intensificar as pressões ecológicas, que já são graves, disse Leape à Reuters em entrevista em Davos.
CONCESSÕES
``No final das contas, para que tenhamos sucesso, temos de encontrar algum meio para que os países emergentes alcancem suas necessidade de desenvolvimento e suas aspirações com um desgaste carbônico mais baixo'', disse ele.
``O desafio é encontrar um acordo que inclua as economias emergentes de forma que seja compartilhado mas diferenciado em termos de responsabilidade... Não se pode ter uma solução eficaz sem incluir as economias emergentes de alguma maneira''.
Os líderes dos países em desenvolvimento insistiram em Davos que, mesmo que estejam abertos a usar energia renovável e limpa, e a adotar tecnologias que reduzam emissões quando possível, não poderiam aceitar limites que ameacem seu crescimento.
Achim Steiner, líder do Programa Ambiental da ONU, sediado em Nairóbi, disse que é ``uma questão de justiça'' que os países em desenvolvimento tenham maior flexibilidade nos limites de emissões em um futuro tratado.
``Temos de acelerar radicalmente a forma com a qual lidamos com a descarbonização de nossa economia, e quanto mais rapidamente nos adiantamos no processo, mais rapidamente os países em desenvolvimento poderão entrar no processo'', disse ele à Reuters em Davos.
Sem restrições diferenciadas, ele disse que será difícil convencer a China e a Índia a aceitar um acordo. Isso poderia, por sua vez, tornar difícil a aceitação pelos Estados Unidos, que não assinou o acordo de Kyoto.
Blair, em seu discurso em Davos, disse que seria ``loucura'' as potências mundiais não combaterem a mudança climática, que, segundo cientistas, pode causar o aumento dos níveis do mar, secas, enchentes, tempestades, e epidemias.
``Os Estados Unidos e a China, mesmo que não tivessem outra razão para se relacionar, precisariam se relacionar ainda que fosse apenas para isso,'' disse ele.
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