Ao menos nesta primeira semana pós-terremoto, as rusgas entre Brasil e Estados Unidos não podem ser consideradas efeito colateral da disputa pelo controle da missão. Esta é a avaliação de Thomas Heye, coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF) e especialista em gastos militares. "Dado o caráter emergencial da missão, todos estão querendo ajudar; e está todo mundo ansioso. Por enquanto, a motivação dos Estados Unidos pode ser entendida como humanitária", interpreta.
Na semana passada, após a ocupação do aeroporto de Porto Príncipe por controladores de tráfego da Força Aérea americana, o Itamaraty reclamou que os Estados Unidos estariam violando o mandato da ONU, que outorga ao Brasil a liderança das tropas de paz no Haiti. Um estranhamento mais intenso foi evitado pelo apelo do presidente haitiano René Préval, que pediu aos países que não briguem entre si.
Para Heye, o aporte militar americano (navios, helicópteros, aviões de transporte e 13 mil soldados) é uma consequência direta da capacidade militar daquele país. "Como os Estados Unidos são ricos e estão próximos do Haiti, ganham proeminência neste início dos trabalhos humanitários."
Porém, segundo Heye, o Brasil continuará a ter a sua função no futuro do Haiti. O anúncio do ministro da Defesa, Nelson Jobim, que prometeu a permanência das tropas brasileiras por mais cinco anos, suprirá uma das principais carências durante a reconstrução: o know-how sobre os problemas haitianos.
"O Brasil tem cinco anos de experiência no Haiti. E além do mais, o tipo de reconstrução que o Haiti precisa não pode ser feito por forças militares. É um trabalho civil, o de recompor as estruturas fundamentais do Estado. Nisso, Brasil e Estados Unidos podem se ajudar".
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