Barreiras históricas
Desde o início da evolução humana, muralhas ou muros são utilizados como forma de proibir o acesso de civilizações consideradas inimigas a um determinado território.
Na semana passada, 237 imigrantes ilegais iniciaram uma greve de fome na Grécia. Eles se reuniram na Faculdade de Direito da Universidade de Atenas para pedir a legalização de sua situação no país. Centenas de policiais cercaram o centro universitário para realizar a desocupação e, após cinco dias de protestos, os manifestantes resolveram desistir. A saída foi negociada e todos deixaram o prédio pacificamente. Longe de ser só mais uma notícia que morreu, o protesto renovou a preocupação europeia com a entrada de clandestinos no bloco e seu "trabalho de Sísifo" ao tentar barrá-los.
"O objetivo dos imigrantes não é buscar emprego somente na Grécia, que sofre com a severidade da sua crise econômica. Eles buscam oportunidades na França, na Alemanha, no Reino Unido e em outros países do bloco", explica o coordenador do núcleo de Pesquisas em Relações Internacionais da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Alexsandro Eugenio Pereira.
Isso explica o projeto grego, apoiado informalmente por países europeus, de construir um muro na fronteira com a Turquia, por onde entra a maior parte dos ilegais. Segundo estimativas, cerca de 90% dos imigrantes que ingressam de forma ilegal na comunidade europeia o fazem por meio da fronteira entre a Grécia e a Turquia. Analistas veem na obra, condenada por defensores dos direitos humanos, uma repreensão europeia não só aos imigrantes, que vêm da África e do Oriente Médio, mas também à Turquia e a seu projeto de adesão ao cobiçado bloco.
Origens
Todo o problema teria sua gênese na decisão da Turquia em abrir suas fronteiras para que turistas das nações da África e do Oriente Médio entrem sem necessidade de visto. Em busca de melhores oportunidades, muitos desses viajantes tentam migrar ilegalmente para a Grécia e dali para outras nações da UE.
"De certa forma, a proposta do muro significa que a Turquia não estaria fazendo sua parte na contenção de imigrantes ilegais com destino à UE", avalia Sergio Gil Marques, professor do curso de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco.
Na opinião de Alexsandro Pereira, o crescimento significativo dos fluxos migratórios rumo às nações mais desenvolvidas é um reflexo da falta de oportunidades em seus países de origem. Uma situação que agrava a crise empregatícia que a Europa atravessa já que esses imigrantes ilegais passam a disputar parte do mercado de trabalho com os europeus já fixados, natos ou não, em determinado país da UE.
Reprovação
Apesar da intenção grega, especialistas têm uma opinião consensual sobre a construção de um muro como modo de tentar evitar a entrada de imigrantes ilegais na UE. "Já se percebeu que a ideia de construir um muro pode até reduzir a imigração, mas não a evita completamente além dos desgastes políticos que causa. O mais adequado seria o policiamento ostensivo e intensivo de toda a extensão da fronteira", afirma Sergio Gil Marques.
A ideia de que o problema não será resolvido apenas com a construção de um muro fronteiriço é também compartilhada por Alexsandro Pereira. "Não será a construção de um muro que limitará o fluxo de imigrantes para a Europa", afirma. Segundo Pereira, enquanto os países mais ricos não assumirem suas responsabilidades pela crescente desigualdade econômica e social no mundo, estes continuarão lidando apenas com as consequências da desigualdade. "Dessa forma, nunca enfrentarão a origem do problema", completa.
Apesar de ser contrário à construção de uma nova barreira física entre os dois países, Marcos Dias de Araújo, historiador e professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), faz questão de deixar claro que, na verdade, já existe além das diferenças históricas entre os dois povos um muro que os separa. Essa barreira está localizada na ilha de Chipre e divide o território cipriota entre gregos e turcos. Para o historiador, a manutenção ou construção de muros nos dias atuais é uma aberração.
A construção do muro deve ser iniciada já em março deste ano. De acordo com o projeto, será erguida uma barreira de 12,5 quilômetros de extensão nas proximidades de Orestiada, considerada o principal ponto de entrada de imigrantes clandestinos na UE. Orestiada é a cidade grega localizada mais ao nordeste do país, nos limites da fronteira seca com a Turquia.
Confira no mapa a localização aproximada de algumas dessas barreiras
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