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União Europeia

Países europeus resistem em acolher refugiados afegãos: como discurso mudou após a crise síria

A chanceler alemã, Angela Merkel, fala à mídia sobre a situação no Afeganistão, em 24 de agosto de 2021. (Foto: Sean Gallup / POOL/EFE)

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Com a tomada do Afeganistão pelo Talibã, o possível êxodo de afegãos que receiam viver sob o novo regime islâmico alimenta a expectativa de que uma crise imigratória na Europa possa acontecer, nos moldes de 2015-2016, quando milhões de pessoas fugiram do Oriente Médio para o continente europeu e se estabeleceram ali.

Porém, os afegãos que tentarem o caminho para a União Europeia não encontrarão a mesma abertura para o acolhimento de imigrantes que outrora existia no bloco.

A Alemanha, por exemplo, foi um dos países que mais acolheram imigrantes na crise anterior. Somente no ano de 2015, 1,5 milhão de pessoas que fugiam da guerra e da pobreza estabeleceram-se no país; a maioria esmagadora da Síria e de países do norte da África.

A chanceler alemã, Angela Merkel, naquele momento, rejeitou diversas vezes as pressões internas para dificultar a chegada de imigrantes nas fronteiras de seu país. Ela encarava a questão dos refugiados como um dever, e pedia que outros países fizessem o mesmo.

Países manifestam resistência

A situação político-social é diferente agora. Daqui a um mês, os alemães vão às urnas eleger um novo parlamento federal, e o novo chanceler. Angela Merkel, líder do país desde 2005, disse que vai se aposentar da vida partidária e certamente não quer prejudicar seu partido com uma nova crise de refugiados. Além disso, o crescimento de atentados terroristas em solo europeu nos últimos anos fez com que os governos aumentassem os controles de imigração.

Merkel ao alertar sobre uma possível nova onda de refugiados, se concentrou mais na necessidade de ajudar os países vizinhos do Afeganistão: “Trata-se principalmente de ajudar os países vizinhos para os quais os refugiados afegãos podem ir”, disse ela.

A mensagem segue as diretrizes que Alemanha e outros países do bloco estavam tomando antes mesmo da confusão no aeroporto internacional de Cabul ganhar as manchetes. Alemanha e mais cinco países (Áustria, Dinamarca, Bélgica, Holanda e Grécia) já defendiam a necessidade de manter as deportações de afegãos em carta à Comissão Europeia, no início deste mês.

O próprio ministro da Migração da Grécia, Notis Mitarachi, afirmou na semana passada (17) que não quer que seu país se torne o ponto de entrada da UE para os afegãos que fogem de seu país.

“Estamos dizendo claramente que não seremos e não podemos ser a porta de entrada da Europa para os refugiados e migrantes que poderiam tentar entrar na União Europeia”, disse Mitarachi à televisão estatal ERT.

Também na semana passada, quem mostrou sintonia com os outros países do bloco foi a França, cujo presidente Emmanuel Macron afirmou que a UE apresentaria um plano “robusto” para proteger o bloco de uma possível onda de imigrantes.

“Devemos nos antecipar e nos proteger contra fluxos migratórios irregulares significativos que colocariam em perigo os imigrantes e podem encorajar o tráfico de todos os tipos”, disse Macron em discurso na televisão.

O presidente francês pretende envolver os países de trânsito em “um esforço de solidariedade e cooperação”. Sobre a problemática saída dos EUA do Afeganistão, o presidente foi enfático: “A Europa não pode assumir sozinha as consequências”, concluiu Macron.

UE quer colaboração de países vizinhos

Nesta terça-feira em reunião extraordinária do G7, o Primeiro-Ministro da Itália, Mauro Draghi, frisou a necessidade de fornecer ajuda humanitária e fazer a gestão dos migrantes. Draghi afirmou que há necessidade de chamar os países do G20 para resolver a crise.

“Para atingir estes objetivos – concluiu Draghi – acredito que o G7 deve também mostrar-se unido na abertura de relações com outros países. Nisso, o G20 pode ajudar o G7 a envolver outros países que são muito importantes porque têm a capacidade de controlar o que está acontecendo no Afeganistão: Rússia, China, Arábia Saudita, Turquia e Índia”.

Os europeus pretendem que os países vizinhos do Afeganistão acolham refugiados. O bloco europeu anunciou nesta segunda-feira o compromisso de quadruplicar a ajuda humanitária neste ano, para cerca de 200 milhões de euros, a fim de lidar com as necessidades urgentes no Afeganistão e em países vizinhos.

Desviar a pressão migratória da Europa para os países dos arredores do Afeganistão vai exigir muita pressão política e aumento considerável de financiamento para a ajuda humanitária, dado que países vizinhos fazem há anos um esforço de acolhimento de imigrantes afegãos.

O Paquistão hospeda já 1,4 milhão de refugiados, enquanto o Irã, quase um milhão, de acordo com os dados do início de 2021 da agência das Nações Unidas para Refugiados.

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