Buenos Aires Há uma corrida às armas na América Latina, e ela vale bilhões. O processo, porém, se dá "em passos relativamente lentos", analisa a pesquisadora Bárbara Reyes, do Instituto Resdal, de Buenos Aires.
Para a especialista "os planejadores aparentemente consideram várias hipóteses de conflito, mas todas a longo prazo, no limiar de 2015 a 2020".
Essa semana, dois eventos indicam que, para alguns desses estrategistas a ameaça parece estar bem próxima. O ministro da Defesa da Venezuela, Raúl Baduel, negociou o fornecimento de 24 caças Su-30, russos, sob condição de entrega acelerada. Os dois primeiros saíram na última segunda-feira da fábrica de Komsomolsk, a bordo de um grande cargueiro Ruslan. Serão montados na base aérea de Caracas para serem exibidos em parada militar no próximo domingo (10). O contrato é estimado em US$ 1,5 bilhão.
Na quinta-feira, a Embraer entrega cinco Supertucanos para a Colômbia. O negócio, de US$ 235 milhões, envolve 25 aeronaves turboélice de ataque leve, mais suprimentos. Os sistemas eletrônicos, da Elbit israelense, permitem ao avião lançar mísseis ar-terra e bombas inteligentes.
O levantamento do Resdal considera apenas os gastos militares do Brasil, da Argentina, do Chile, da Colômbia e da Venezuela.
Brasil
As aplicações brasileiras com a Defesa aparecem com números impressionantes. O Orçamento da União para 2007 destina cerca de R$ 39 bilhões para o setor. Mas do total, R$ 30 bilhões serão destinados a pagamento de pessoal ativos, pensionistas e inativos. Sobra pouco, e quase sempre com recursos não garantidos, para investir em novos equipamentos e avanço tecnológico.
Entre os países vizinhos a situação é bem diferente. O Chile, que destina ao Ministério da Defesa, por força de lei, um porcentual variável chega a até 6% da arrecadação obtida com a exploração das reservas de cobre e outros minérios, comemorou há uma semana a entrega da primeira de uma série de três fragatas inglesas da classe Type-23. São navios com pouco mais de 12 anos de uso. Foram comprados por US$ 260 milhões. Como o dinheiro é garantido, foi possível negociar um bom programa de revitalização e prazo: a última fragata vai aportar em Valparaíso em janeiro de 2008. Cada uma delas desloca 4.200 toneladas, dispõe de um helicóptero lançador de mísseis ou torpedo. Leva 181 tripulantes e é armada com mísseis mar-mar, antiaéreos e com dois canhões de acionamento eletrônico.
O projeto chileno é abrangente. Por US$ 45 milhões contratou nos EUA o fornecimento de 20 mísseis Harpoon, ar-superfície. Com alcance próximo de 120 quilômetros e dotados de ogiva de 270 quilos de alto explosivo, os Harpoon podem ser empregados para destruir instalações estratégicas portos e centrais geradoras de energia.
Não é só isso. A Marinha do Chile, além das fragatas inglesas, também investiu em outras três, holandesas, de menor porte, e na compra de dois submarinos franceses Scorpéne. Esses são navios novos, de alta tecnologia. A propulsão é diesel-elétrica. Disparam torpedos de 533 milímetros. Ambos foram entregues com facilidades para receber dispositivos de tiro de mísseis táticos
O Exército da presidente Michelle Bachelet, ela própria ex-ministra da Defesa, entrou no plano de modernização comprando 124 tanques de batalha, alemães, Leopard-2A4, gigantes de 62 toneladas com canhões de 120 milímetros feitos para munição supersônica e de energia cinética.
A aviação está recebendo 10 caças americanos F-16C Falcon combinados com 18 adicionais, cedidos pela força aérea da Holanda depois de passar por um processo de atualização.
Em todo o empreendimento o Instituto Resdal estima que tenham sido aplicados US$ 10 bilhões, em regime de módicas parcelas e a longo prazo.
A Colômbia, com largo apoio dos EUA, está aplicando todas as suas fichas em aquisição de tecnologia. Efeitos práticos: em julho lançou o sexto navio blindado de apoio a operações de combate. A embarcação de uso misto, fluvial ou costeiro, é furtiva (stealth, em inglês) em certa proporção. A difícil detecção por radares e sensores eletrônicos indica que sua possibilidade de emprego não se restringe à luta contra a guerrilha. Leva seis canhões rápidos .50 e quatro metralhadoras M-60. Pode lançar mísseis e torpedos.