O robô chinês “Vanke” é um sucesso na COP21. A máquina falante convida pelos corredores os visitantes a darem um pulo no pavilhão do governo chinês na Conferência do Clima, em Paris. Depois de tirar uma selfie com ele, muitos param para conhecer o iluminado globo terrestre no amplo espaço dos Estados Unidos. A atração registra o impacto da emissão de poluentes no planeta.
É só virar a esquina para, então, se deparar com o que há de mais luxuoso na COP21: o estande do Conselho de Cooperação do Golfo, que reúne Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes, Oman, Qatar e Kuait. O espaço impressiona. Os quadros dão tom de propaganda turística da região e os comes e bebes são de graça. Num auditório, se destaca uma exposição sobre energia renovável feita pelo saudita Tidjani Niass, chefe do setor de carbono da Saudi Aramco, a estatal de petróleo saudita, a maior do mundo.
No espaço aberto da COP21, no subúrbio parisiense de Le Bourget, EUA, China e países do Golfo são campeões em popularidade e de promessas de redução de poluentes. No entanto, nas negociações a portas fechadas, lideram as fileiras dos que emperram as conversas, impõem condições e colocam em risco um acordo factível para tentar atingir o limite de aquecimento de 2ºC até 2100, considerado menos perigoso.
A conferência entra na reta decisiva a partir desta segunda, dia 7, com as chamadas negociações de alto nível, quando detalhes relevantes são, enfim, postos na mesa.
Um texto preliminar, espécie de esqueleto do acordo, foi divulgado no sábado, mas recheado de lacunas e longe de um consenso.
“Fóssil do dia”
Na sexta, dia 4, o governo saudita levou o troféu de “fóssil do dia” do encontro, espécie de antiprêmio simbólico dado pelas ONGs a quem está atrapalhando o jogo. O país insiste, por exemplo, em manter de fora do documento final a menção de uma meta ideal de 1,5ºC até o fim do século, mesmo que se mantenha a de 2ºC como objetivo real. “A delegação deles parece feliz em nos fechar num mundo que ficará mais quente em 3ºC”, dizem as ONGs. Os sauditas foram os últimos do G20 a entregar as metas de corte de emissões de gases estufa. Seu negociador-chefe, Khalid Abuleif, argumenta ser difícil prever a redução de poluentes nos próximos 15 anos pelo fato de 90% das exportações locais virem do petróleo.
“Nossa economia é muito dependente de uma só fonte e precisamos achar uma maneira de manejar isso”, diz.
Maior poluidor do planeta, a China ainda é uma incógnita, apesar do estilo mais conciliador do governo de Xi Jinping em relação ao seu antecessor, Hu Jintao. Xi promete reduzir em 65% a emissão de gás carbônico até 2030 em relação a 2005, plano considerado satisfatório nas rodas de Paris. Ao mesmo tempo, porém, tem resistência a um prazo obrigatório para a revisão de metas.
Na COP21, Xi tocou num ponto usado pelo governo dos EUA para travar as conversas: quem financia os países pobres para ajudá-los a combater o aquecimento global. Para o líder chinês, a tarefa deve ser somente dos desenvolvidos, posição compartilhada por países como Brasil e Índia. Para os negociadores americanos, as nações em desenvolvimento também devem ajudar.
Diante do impasse, o parágrafo do texto que trata desse assunto deve ter uma solução somente nas horas finais da COP21, que – em tese – termina na sexta-feira, dia 11. Esse tema e o da obrigatoriedade do cumprimento de metas (que daria força de lei ao acordo) vão dominar o debate em busca de uma solução para Paris não repetir o fiasco da Conferência de Copenhague, em 2009, que terminou sem peso legal. “Não estamos falando em qualquer tipo de acordo, ninguém veio aqui para isso. É a hora de se comprometer”, afirma o chefe dos negociadores do Brasil, o embaixador José Antônio Marcondes.
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