Paris Mais de 40 países apóiam a criação de uma organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente proposta na conferência internacional Cidadãos da Terra, que terminou ontem em Paris com um chamado ao combate contra a degradação do planeta. "Hoje, sabemos que a humanidade está destruindo, a uma velocidade aterrorizadora, os recursos e equilíbrios que permitiram seu desenvolvimento e que determinam seu futuro", diz o Chamado de Paris, lido no fim da conferência pelo anfitrião do encontro, o presidente da França, Jacques Chirac.
O texto promove a transformação do atual Programa da ONU para o Meio Ambiente numa agência similar à Organização Mundial da Saúde (OMS), que seja uma voz forte reconhecida no mundo e permita a avaliação dos danos ecológicos e sua atenuação. Fontes da Presidência francesa disseram que entre os países que apóiam a criação do órgão estão a maioria dos europeus e outras 20 nações da África, da Ásia e da América Latina.
O apelo é feito no dia seguinte da publicação do relatório de especialistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), segundo o qual as crescentes emissões de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa provocarão um perigoso aquecimento da temperatura da Terra e transtornos meteorológicos que serão sentidos durante mais de um milênio. O texto o quarto publicado pelos especialistas da ONU adverte que a Terra experimentará no século 21 um aquecimento entre 1,8 e 4 graus centígrados, o nível do mar subirá 58 centímetros e aumentará a ocorrência de fenômenos meteorológicos devastadores. O citado Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) foi criado em 1972 e tem sede em Nairóbi, no Quênia.
"Lançamos um chamado solene para uma grande mobilização internacional contra a crise ecológica e em prol de um crescimento que respeite o meio ambiente", diz a declaração. "O futuro do planeta em seu conjunto está em jogo. A sobrevivência de toda a humanidade está em perigo. Chegou o momento de sermos lúcidos. De reconhecer que chegamos ao limite do irreversível, do irreparável. De admitir que já não podemos nos permitir esperar, que cada dia que passa agrava os riscos e os perigos", acrescenta o texto.
Segundo o documento, a preocupação com o meio ambiente deve estar no centro das decisões e das iniciativas dos países membros, que se comprometem a adotar medidas para afastar os perigos, em particular a mudança climática, cuja gravidade é demonstrada pelo último relatório do Grupo Intergovernamental sobre a Evolução do Clima, apresentado esta semana em Paris. O texto apresentado ontem destaca a importância da adoção de uma Declaração Universal dos Direitos e Deveres Ambientais, que garanta um novo direito humano: o de um ambiente saudável e preservado. Além disso, rejeita o modelo econômico baseado no desperdício desenfreado de recursos naturais e na poluição, e pede sua substituição por outro que esteja a serviço do desenvolvimento sustentável e da luta contra a pobreza, tocando assim no ponto que causa discordâncias com os Estados Unidos e alguns países europeus.