Os anos 60 foram prolíficos em formas alternativas de vida, mas poucas foram tão longe como a criada por um inglês que se instalou numa plataforma marítima no Mar do Norte. Paddy Roy Bates tomou posse da HM Fort Roughs, construída pela marinha britânica durante a Segunda Guerra, em 1967. A ideia inicial era montar uma rádio fora do território da Inglaterra onde empreendimentos comerciais desse tipo eram proibidos à época mas, como diz o filho, Michael Bates, Roy "achou mais interessante declarar independência" daquilo que passou a considerar um principado.
Com território (ainda que só o equivalente a um terreno grande de 550 m²), população (no momento, cinco pessoas) e governo (autoproclamado) itens que definem "Estado" para alguns juristas , Bates declarou-se príncipe de "Sealand" e passou a vender títulos de nobreza.
Até hoje, a ideia diverte. "Ele encontrou sua própria liberdade", elogia Basil Simonenko, autor do Hino Nacional de Sealand, em conversa com a Gazeta do Povo. "É o único homem que eu conheço que pode dizer ser livre do domínio de qualquer país."
A página do Facebook soma mais de 19 mil fãs. "Me interesso em ver como essa família pegou um forte da Segunda Guerra e o transformou num negócio multimilionário", escreveu para a reportagem Christopher Price, que ostenta com orgulho o título de "Lord (senhor) de Sealand".
Talvez seja exagero. A venda de títulos, camisetas, selos e moedas não dá lucro, de acordo com Michael Bates, atual príncipe-regente do território atual, que conversou por telefone com a Gazeta do Povo.
O fã-clube virtual recebe a cada dia um ou dois novos relatos de gente que comprou a honraria e adorou. É claro que, como em qualquer rede social, muitos frequentam a página só para criticar a ideia. "Mas meu filho, que modera os comentários, nunca precisou deletar nada. Os próprios fãs nos defendem", diz Michael.
Com 57 anos, ele conta ter passado um quarto da vida em Sealand, dos 14 aos 30, para ajudar o pai a cuidar do lugar. Por um período, empresas de internet sediaram seus servidores ali para atividades proibidas em outros países, como cassinos on-line (mas nada imoral, garante Michael). Hoje o negócio se resume à venda de títulos (por 35 libras, ou R$ 90) e souvenirs. Por ser uma relíquia da Segunda Guerra seria a única fortaleza marítima que não foi desmantelada pelos britânicos muitos exprimem o desejo de visitar o local, o que não é permitido.
Quem é convidado, como Simonenko (um "extra" ao pagamento generoso pelo hino que escreveu para o "país") conta como a estrutura foi transformada. "As duas torres são habitáveis por dentro, e descem bem fundo abaixo do mar", diz, empolgado. São sete andares no total, que descem dez metros até o fundo do mar.
Diplomacia
A situação jurídica de Sealand é frágil, apesar de ninguém se importar com isso. No segundo ano após a "posse" e depois de atirar contra navios da marinha que se aproximaram da plataforma, a família Bates foi parar na Justiça inglesa, onde obteve ganho de causa por estar fora do mar territorial inglês.
Os Bates usam o episódio para justificar sua soberania, que não é reconhecida por nenhuma nação. O que não os impede de ter conflitos "diplomáticos".
De acordo com a versão oficial, que consta do site de Sealand na internet, houve um ataque terrorista à ilha quando um rico alemão decidiu invadi-la e fazer Michael refém. Ele foi então rendido e só foi libertado duas semanas depois, após intercessão de um diplomata da Alemanha.
Outra questão transnacional surgiu quando se descobriu, em 1997, que falsos passaportes "sealandeses" estavam sendo usados para abrir contas bancárias. De acordo com o site, há "500 vezes mais passaportes falsos em circulação do que verdadeiros".
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Se a ideia interessou, você pode se tornar um lorde em www.sealandgov.org.
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