Economia
FMI e Nações Unidas apontam dificuldades na criação do Estado
A escassez de ajuda financeira internacional, as restrições comerciais impostas por Israel e a atual paralisia diplomática ameaçam os esforços palestinos para a criação de uma economia viável e de instituições sólidas. As observações estão em relatórios da ONU e do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgados ontem.
Os dois textos afirmam que a Autoridade Nacional Palestina (ANP) cumpriu seu objetivo de preparar os órgãos necessários para a administração de um país, mas ressaltam que há pela frente ameaças econômicas e políticas que podem reverter os avanços dos últimos dois anos.
A ANP, que exerce uma autoridade limitada sobre partes da Cisjordânia, confia na ajuda internacional para cobrir um déficit que deve alcançar US$ 900 milhões neste ano.
O FMI, no entanto, disse que a economia palestina já está sofrendo com uma forte redução nas doações. Nos primeiros oito meses do ano, essas verbas totalizaram US$ 400 milhões, ou US$ 300 milhões a menos do que o previsto.
"A recente escassez na ajuda está constituindo sérios riscos à capacidade de construção de um Estado por parte da ANP, especialmente diante da sua ainda elevada dependência em relação à ajuda", relata o documento do FMI.
O FMI diz ainda que as perspectivas econômicas para os palestinos são sombrias.
Em desafio direto aos Estados Unidos, a Autoridade Nacional Palestina (ANP) confirmou ontem que pedirá ao Conselho de Segurança na próxima semana que seja aceita como membro pleno da Organização das Nações Unidas (ONU), mesmo que Washington tenha prometido vetar a medida. O pedido será entregue no dia 23 de setembro.
A decisão da ANP foi feita no momento em que uma equipe diplomática americana está na região e tenta evitar um possível constrangimento para os EUA, ao mesmo tempo que tenta criar condições para o relançamento das negociações de paz entre Israel e os palestinos.
Ao pressionarem pela medida, os palestinos se arriscam a colocar o presidente dos EUA, Barack Obama, na desconfortável posição de ter de vetar uma medida que é apoiada pela vasta maioria da comunidade internacional.
Confronto
O ministro das Relações Exteriores da ANP, Riad Malki, disse que os palestinos não buscam o confronto. Mas afirmou que a posição norte-americana deixa Washington em uma "posição de confronto" com o resto do mundo. Ele sugeriu que a credibilidade dos Estados Unidos poderá ficar em jogo. "Eu não sei o que isso significaria (um possível veto) para a posição dos EUA na ONU e mesmo entre os países ao redor do mundo", ele disse.
Apesar das declarações mais de Malki, ainda há dúvidas sobre a ação dos palestinos. Em Nova York, o embaixador palestino na ONU, Riad Mansour, disse que uma decisão final ainda não foi tomada. "A decisão final sobre qual caminho seguiremos será tomada nos próximos dias", disse Mansour.
Enviados dos Estados Unidos, da União Europeia, da Rússia e da ONU estavam reunidos ontem com lideranças palestinas e israelenses, em um esforço para retomar as negociações diretas de paz, paralisadas há um ano.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que irá falar às Nações Unidas na próxima semana, para apresentar as objeções de seu país à campanha dos palestinos para ocupar uma vaga na ONU.
Netanyahu afirmou que Israel quer a paz e tenta negociar há dois anos e meio. As negociações foram paralisadas quando Israel retomou as construções de colonos israelenses na Cisjordânia.
Resistência
Em Washington, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, enfatizou o ponto de vista dos Estados Unidos, o de que a negociação com Israel é o único caminho viável para os palestinos conquistarem o seu Estado.
"Os palestinos não podem e não devem obter o direito a um Estado por meio de uma declaração das Nações Unidas.
Isso é fugir da questão original e é contraproducente", disse Carney.
"A única maneira de resolver o problema é através das negociações diretas", disse.