Representantes palestinos buscaram ajuda, nesta segunda-feira (15), dos Estados Unidos e da Europa para salvar o processo de paz depois dos termos apresentados pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamim Netanyahu. A decepção dos palestinos ganhou eco nas capitais do mundo árabe, onde líderes acusaram Netanyahu de colocar mais obstáculos no caminho do já difícil processo de paz.
Apresentando sua política para o Oriente Médio durante um discurso no domingo, Netanyahu curvou-se à pressão norte-americana e desistiu de décadas de oposição ao estabelecimento de um Estado Palestino. Ele convidou os palestinos e o restante do mundo árabe para reiniciarem as conversações de paz.
Porém, ele retirou da agenda de negociações o destino dos refugiados palestinos, deslocados pela criação do Estado de Israel em 1948 e disse que Israel vai manter a soberania sobre toda Jerusalém, duas questões que governos israelenses anteriores haviam concordado em negociar.
Netanyahu também disse que vai manter a construção de assentamentos judaicos em terras reclamadas pelos palestinos, apesar da exigência dos Estados Unidos para uma completa paralisação dos novos assentamentos. O presidente palestino, Mahmoud Abbas, disse que não vai retomar o diálogo a menos que Israel honre as promessas anteriores de interromper as construções.
O negociador palestinos Saeb Erekat disse que o discurso de Netanyahu foi tão cheio de condições que "não deixou espaço para negociações". Mas ele disse que os palestinos não querem ser tomados como o grupo que rejeita negociações e não rejeita a retomada das conversações que foram interrompidas no ano passado
"Netanyahu quer nos colocar numa situação na qual parece que ele oferece alguma coisa e nós dizemos não", disse Erekat. "O discurso de Netanyahu foi muito claro. Ele rejeita a solução de dois Estados".
Erekat disse que entrou em contato nos negociadores norte-americanos, europeus e russos após o discurso e pediu a eles que mantenham Israel - juntamente com os palestinos - atrelados às suas obrigações com os planos de paz prévios.
Pede-se que Israel interrompa a construção de assentamentos, enquanto os palestinos devem controlar os militantes.
A medida de Netanyahu foi tomada após meses de pressões de Washington para endossar a criação de um Estado palestino, como sucessivos governos israelenses antes dele haviam feito. "Há novas circunstâncias internacionais que exigem que eu tome uma decisão", disse Netanyahu durante uma reunião partidária nesta segunda-feira. "Esta é a política que eu escolho".
Em Washington, Robert Gibbs, porta-voz do presidente Barack Obama, saudou a aceitação condicional de Netanyahu sobre a criação de um Estado palestino como um "importante passo". Mas ele deu a entender que mais precisa ser feito, dizendo que os Estados Unidos devem trabalhar com todos os lados para se certificar que eles preencherão as obrigações "necessárias para que se chegue a uma solução de dois Estados".
A União Europeia (UE) também disse que o endosso de Netanyahu foi um passo na direção certa, mas questionou a postura israelense em questões como os assentamentos judaicos e o futuro status de Jerusalém.
Ao mesmo tempo, o tom nacionalista, as condições duras e a linguagem vaga de Netanyahu sobre o processo de paz parecem tentar evitar uma crise em sua coalizão de governo, onde há forte oposição à pressão dos Estados Unidos. O ministro de Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, o mais poderoso linha-dura do governo de Netanyahu, disse que o discurso do primeiro-ministro destacou "o equilíbrio entre nossas aspirações pela paz e nossa aspiração por segurança".
Em seu discurso, Netanyahu pediu que líderes árabes reúnam-se com ele "a qualquer hora, em qualquer lugar". Mas ele sutilmente evitou mencionar a iniciativa de paz árabe que oferece a normalização das relações com todo o mundo árabe em troca a completa retirada israelenses das terras capturadas em 1967, uma exigência rejeitada por Israel.
Ele exigiu que os palestinos reconheçam o direito de existir de Israel como um Estado judaico - outra forma de dizer que os refugiados palestinos devem desistir de suas expectativas de retornar às suas casas perdidas dentro do Estado de Israel.
O presidente do Egito, Hosni Mubarak, um importante mediador entre Israel e os palestinos, disse que a exigência "vai, no final, complicar a situação e acabar com qualquer chance de paz", segundo a agência de notícias estatal MENA.
Na Jordânia, o jornal pró-governo Al-Rai trouxe um editorial intitulado "Netanyahu ofereceu mercadoria estragada. Ninguém vai comprá-la."
O presidente do Líbano, Michel Suleiman, descreveu o discurso de Netanyahu como "intransigente no que diz respeito a lidar com a paz ou no que diz respeito a uma solução para os refugiados palestinos." O diário estatal saudita Al-Nadwa diz que cada parágrafo do discurso de Netanyahu "nos faz mais pessimistas".
O subsecretário geral para assuntos palestinos da Liga Árabe, Mohammed Sobeih, disse que o discurso pode satisfazer "extremistas em Israel", mas está "muito longe do que a paz precisa".
A agência de notícias síria publicou um pedido aos maiores poderes do mundo para forçar Israel a interromper a construção de assentamentos. Em Beirute, o Hezbollah, outro grande inimigo de Israel, disse que o discurso desapontou os "chamados árabes moderados", que esperavam um acordo de paz com Israel.
O ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, que negociou o importante tratado de 1979 entre Egito e Israel, disse que sua experiência na região mostra que nenhuma diferença é insuperável Mas ele criticou importantes pontos do discurso - a intenção de Netanyahu de manter todo o território de Jerusalém e sua exigência pelo reconhecimento de Israel como um Estado judeu, o que, segundo Carter, tornará difícil para Obama reunir apoio árabe.
Carter reservou suas palavras mais duras para os assentamentos. "Se Israel continuar a expandir seus assentamentos", disse ele, "então, as perspectivas de paz serão bastante diminuídas, se não tornarem a questão quase impossível".
Investigações
Os integrantes de uma missão da Organização das Nações Unidas (ONU) que investiga os supostos crimes de guerra na Faixa de Gaza durante o conflito ocorrido no início deste ano, disseram que ainda têm esperanças de que receberão permissão para visitar o sul de Israel.
Mas Martin Uhomoibhi, presidente do Conselho de Direitos Humanos da ONU, disse que a investigação liderada pelo veterano investigador de crimes de guerra, Richard Goldstone, ainda não recebeu uma resposta oficial a seus pedidos feitos a Israel.
Israel declarou repetidamente sua oposição à missão porque ela é comandada pelo conselho de direitos humanos sediado em Genebra, que tem um histórico de criticar o Estado judeu pelo tratamento dado aos palestinos.
Uhomoibhi disse, durante uma reunião com os 47 membros do conselho nesta segunda-feira, que a missão vai realizar audiências públicas com vítimas israelenses e palestinas em Gaza e em Genebra a partir do final de junho. As informações são da Associated Press.