Bagdá (Reuters) Cerca de mil iraquianos xiitas morreram ontem em um tumulto sobre uma ponte perto de uma mesquita de Bagdá, devido a rumores de que havia um homem-bomba entre eles. Mais de 965 corpos foram retirados da água e das margens do Rio Tigre.
O incidente vem sendo descrito como uma avalanche humana. A multidão dirigia-se para uma cerimônia religiosa na mesquita de Kadhimiya, localizada na região norte da capital iraquiana, quando alguém gritou que havia um homem-bomba ali, contou um policial. Centenas de pessoas começaram a correr e algumas se jogaram da ponte dentro do rio. Algumas ficaram prensadas em um muro da ponte, que acabou cedendo.
A maior parte dos mortos seriam mulheres religiosas e crianças que usavam roupas pesadas. Muitos idosos morreram imediatamente. As montanhas de calçados largados pelas vítimas dão a dimensão da tragédia.
O incidente é de longe o mais trágico desde que mais de 1,4 mil peregrinos morreram em Meca (Arábia Saudita), durante a peregrinação do haj, em 1990.
Apesar de o Iraque estar habituado com os massacres nas ruas de suas cidades, o incidente parecia ontem ter chocado o país. O primeiro-ministro iraquiano, Ibrahim Jaafari, declarou três dias de luto. Os Estados Unidos e a Organização das Nações Unidas lamentaram a tragédia.
O ministro do Interior, Bayan Jabor, e outras duas autoridades xiitas responsabilizaram os insurgentes sunitas pelo incidente, dizendo que um deles havia disseminado o boato sobre a presença de um homem-bomba no meio da multidão. Mas o ministro iraquiano de Defesa, Saadoun al-Dulaimi, um árabe sunita, afirmou que o tumulto não tinha relação com as tensões religiosas e étnicas que tomaram conta do país depois da invasão liderada pelos EUA e iniciada em março de 2003.
Algumas testemunhas responsabilizaram a falta de organização na cerimônia pelo grande número de mortos. Cerca de 250 mil peregrinos viajaram para a mesquita partindo de todo o Iraque a fim de participar do evento.
Independente do que tenha provocado o corre-corre, o medo de que um homem-bomba estivesse prestes a agir justificava-se, já que nos últimos dois anos vários ataques do tipo aconteceram durante eventos religiosos de xiitas. Antes do tumulto, três outros ataques com morteiros e mísseis contra a multidão que se concentrava para lembrar o martírio de Musa al-Kadhim mataram sete pessoas. Os ataques foram reivindicados por um grupo pouco conhecido de militantes sunitas.
Há muita tensão entre as comunidades religiosas e étnicas do Iraque às vésperas de um plebiscito a respeito da nova Constituição do país, a primeira da era pós-Saddam Hussein, o ex-ditador deposto pelos EUA e seus aliados.