Mea-culpas papais
Desde março, o Vaticano tem enfrentado escândalos de pedofilia na Igreja.
Mar.10 Em carta aos irlandeses, Bento XVI diz sentir vergonha pelos abusos cometidos no país.
Abr.10 Papa refere-se pela primeira vez a "abusos por membro do clero e afirma que a Igreja é "pecadora ferida e precisa cumprir penitência; em Malta, expressa "dor e vergonha.
Mai.10 Diz que a Igreja precisa reconhecer a "verdade dos abusos sexuais e que os maiores inimigos estão dentro da instituição.
Jun.10 Bento XVI "implora perdão a Deus e às vítimas de abusos sexuais envolvendo padres.
Jul.10 Vaticano endurece normas para prevenir ocorrência de abusos sexuais na Igreja. As mudanças, as primeiras em nove anos, afetam procedimentos da Igreja para expulsar padres pedófilos, e tornam norma global alguns procedimentos legais até agora só tolerados em circunstâncias excepcionais.
Ontem No Reino Unido, Papa condena "perversão de sacerdotes e lamenta a falta de vigilância.
Fonte: Folhapress
Londres - As autoridades da Igreja Católica não foram vigilantes o suficiente e não souberam agir com decisão e rapidez nos casos de abusos sexuais cometidos contra crianças por padres católicos. Foi com esse discurso que o Papa Bento XVI chegou ao Reino Unido para uma visita de quatro dias. É a crítica mais dura já feita pelo Pontífice à Igreja que chefia.
Eu devo dizer que essas revelações foram um choque para mim e uma grande tristeza. Tristeza também porque as autoridades da Igreja não foram suficientemente vigilantes nem rápidas e decisivas para tomar as medidas necessárias, disse.
Bento XVI chamou a pedofilia de "perversão e disse que é necessário deixar aqueles que sofrem "dessa doença o mais longe possível de suas possíveis vítimas, uma vez que o "livre arbítrio não funciona quando a pessoa está acometida desse mal.
O Papa falou sobre os abusos de crianças durante entrevista a bordo do avião que o levou da Itália para a Escócia, onde começou sua visita.
Ele não foi surpreendido pelo assunto, ao contrário, decidiu falar sobre ele. As perguntas haviam sido passadas por escrito antes e ele escolheu quais responder.
A intenção talvez tenha sido dar uma resposta aos que planejam protestos durante a visita contra a atitude da Igreja nos casos de abusos. Vítimas acusam o Vaticano de ter acobertado os casos e protegido os molestadores.
O Papa afirmou que a missão da Igreja é ajudar as vítimas dos abusos a se recuperar dos traumas e reencontrar a fé em Jesus Cristo.
Ateísmo e nazistas
Bento XVI foi recebido logo cedo pela rainha Elizabeth II, que lembrou dos laços que unem a Igreja Católica e a Igreja Anglicana, criada no século 16 por uma desavença entre o então rei inglês, Henrique VIII, e o Papa.
Em seu discurso, Bento XVI elogiou a luta dos britânicos contra a "tirania nazista que queria erradicar Deus.
Disse que agora é hora de lutar contra o ateísmo extremo e o secularismo exagerado que novamente ameaçam o mundo.
No fim da tarde, o Papa rezou uma missa em Glasgow para cerca de 65 mil pessoas. Número muito menor que o esperado pelos organizadores, que colocaram à venda 100 mil ingressos.
Essa é a segunda visita de um Papa ao Reino Unido. A primeira foi em 1982, quando João Paulo II atraiu muito mais atenção. Pessoas ligadas à Igreja Católica afirmam que não se trata de desprestígio da Igreja, mas que os tempos são outros e que Bento XVI tem um estilo mais reservado, e menos atraente, que seu antecessor no cargo.