O Papa Francisco pediu neste domingo (20) a milhares de cubanos que lotaram a Praça da Revolução, em Havana, capital de Cuba, que cuidem uns dos outros, e não julguem uns aos outros, ao abrir sua visita ao país em meio a grandes esperanças de que o papel fundamental que desempenhou na reaproximação com os EUA resultará em mudanças na ilha.
No encerramento da missa, ele fez um apelo ao governo e aos rebeldes na Colômbia, que realizam negociações de paz em Havana há mais de dois anos, para que ponham fim ao mais longo conflito armado da América do Sul. “Por favor, não temos o direito de nos permitir mais um fracasso neste caminho de paz e de reconciliação.”
“O cristão é convidado sempre a deixar de lado suas buscas, afãs, desejos de onipotência ante o olhar concreto aos mais frágeis.”
Católicos e não católicos se dirigiram à praça antes do amanhecer para ver a missa de Francisco e irromperam em aplausos quando o primeiro papa latino-americano passou no meio da multidão em seu papamóvel. E ele não decepcionou, passando devagar pelas pessoas e parando para beijar crianças. Embora a maioria dos cubanos se diga católica, menos de 10% praticam a sua fé. A multidão não era tão grande como quando João Paulo II tornou-se o primeiro papa a visitar a ilha, em 1998, mas havia muitas pessoas dispostas a ouvir a mensagem.
Julgamento
Em sua homilia, o papa exortou os cubanos a cuidar uns dos outros por um senso de “servir” ao próximo, e não por ideologia, e a não julgar o outro “olhando para um lado ou para outro para ver o que o nosso vizinho está fazendo ou não fazendo”. Não ficou imediatamente claro a que Francisco se referia, mas muitos cubanos se queixam da rigidez de um sistema em que quase todos os aspectos da vida são controlados pelo governo. Os cubanos podem ser excluídos ou perder benefícios se forem percebidos como sendo desleais ou infieis aos princípios da revolução.
“Ser cristão significa promover a dignidade dos nossos irmãos e irmãs, lutando por isso, vivendo para isso”, disse o Papa à multidão. “É por isso que os cristãos são constantemente chamados a deixar de lado suas próprias vontades e desejos, sua busca por poder, e olhar, em vez disso, para aqueles que são mais vulneráveis.”
Maria Regla González, professora de 57 anos, disse que gostou da mensagem de Francisco de reconciliação e unidade para todos os cubanos, e disse que o papa foi particularmente capaz de transmiti-la, já que ele é latino-americano e fala espanhol.
A missa matutina deu início a uma série de eventos para Francisco na ilha, incluindo uma reunião formal com o presidente Raúl Castro e um encontro com o seu irmão de 89 anos, Fidel.
Francisco encontra Fidel em Havana
O papa Francisco manteve um encontro particular com o ex-ditador cubano Fidel Castro neste domingo, confirmou o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi. O encontro, que durou entre 30 e 40 minutos, aconteceu na casa do ex-ditador, na presença de seus filhos e netos e da mulher de Fidel, Dalia Soto del Valle.
O papa reuniu-se com o ex-ditador após celebrar uma missa na praça da Revolução, em Havana, com a presença do ditador cubano, Raúl Castro, e da presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Na reunião, os dois abordaram alguns temas da atualidade internacional, como os danos ao meio ambiente.
Prisões
Três dissidentes cubanos, incluindo uma mulher, foram detidos na Praça da Revolução quando começaram a gritar frases contra o governo.
Os ativistas foram presos por agentes infiltrados entre as pessoas que assistiam ao cortejo do papa. Os detidos pertencem à União Patriótica de Cuba (Unpacu), um grupo opositor na ilha, segundo relato do líder desse movimento, José Daniel Ferrer.
Nos últimos anos, os dissidentes cubanos presos têm sido liberados pela polícia em poucas horas, apesar de no regime comunista estabelecido na ilha ser ilegal qualquer tipo de oposição ao governo.
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