O papa Francisco abriu ontem uma exceção na agenda dos compromissos de preparação para as canonizações dos papas João Paulo II e João XXIII, marcadas para o próximo domingo, e realizou uma missa privada para brasileiros em Roma, o que causou uma verdadeira febre em busca de convites.
O motivo da celebração era fazer uma cerimônia de ação de graças pela canonização do padre José de Anchieta, o chamado "apóstolo do Brasil", realizada no último dia 3 de abril. Os convites foram bastante disputados e, no final, a cerimônia teve um público seleto de aproximadamente mil pessoas.
Como acontecerá com João XXIII no domingo, José de Anchieta foi canonizado sem a Igreja reconhecer a existência de um milagre comprovado feito pela sua intercessão, como se exigia nos processos dos novos santos até agora, uma decisão polêmica.
Boas obras
A explicação do vice-postulador da Causa de Canonização de Anchieta, padre César Augusto dos Santos, é que, além do fato de o papa possuir na Igreja autoridade para essa decisão de acordo com o Direito Canônico, a aprovação desses processos de canonização sem milagres mostra que Francisco está mais preocupado em considerar como prova de santidade o conjunto das obras boas feitas pelo novo santo e a sua fama de santidade.
"Não faz sentido achar que Francisco tenha canonizado Anchieta por ser também jesuíta", afirmou César. Esse seria o mesmo caso de João XXIII, conhecido na Itália como o "papa bom".
Na homilia, o papa Francisco enalteceu a coragem de José de Anchieta e disse que o santo "colocou os fundamentos culturais de uma nação". Ao final, o vice-postulador agradeceu ao papa por ter reconhecido a importância de Anchieta e pela ideia da cerimônia em Roma.
Francisco é o campeão de vendas
Um fenômeno curioso acontece nas lojas de artigos religiosos de Roma. Em geral, nas últimas canonizações, é de praxe que os peregrinos tendam a comprar imagens dos novos santos, como ocorreu, por exemplo, quando o Padre Pio foi levado aos altares. A ideia é levar esses souvenires para serem abençoados durante as cerimônias e guardá-los como lembrança.
Mas, de acordo com os comerciantes, ainda que muitos procurem produtos vinculados a João Paulo II e João XXIII, o que faz sucesso de verdade são aqueles com o sorriso do papa Francisco.
"Sem dúvida Francisco é o campeão de vendas", garantiu Cesare di Porto, proprietário de uma loja de objetos religiosos. "As pessoas querem garantir uma imagem dele e de João Paulo II. E só no final perguntam sobre João XXIII, desconhecido do grande público, ainda que seja amado na Itália", afirma.
Dos três papas se pode encontrar de tudo, desde os tradicionais terços e estampas com orações, até artigos mais comerciais como isqueiros, lenços, camisas de futebol ou ímãs de geladeira. Com a grande demanda, os locais estão cheios e devem continuar abertos hoje, apesar de ser feriado em Roma.