Madri - O Papa Bento XVI afirmou ontem que a universidade deveria voltar à sua autêntica vocação, que "busca a verdade própria da pessoa humana", e criticou a redução "utilitarista" do ensino que busca apenas satisfazer "a demanda trabalhista".
"Às vezes se pensa que a missão de um professor universitário hoje seja exclusivamente a de formar profissionais competentes e eficazes que satisfaçam a demanda trabalhista em cada momento preciso", destacou o Papa para 1.500 professores universitários, na Basílica de San Lorenzo del Escorial, a 50 km de Madri. "Também se diz que a única coisa que se deve privilegiar na presente conjuntura é a mera capacitação técnica. Certamente, se espalha na atualidade esta visão utilitarista da educação, também a universitária, difundida especialmente a partir de âmbitos extrauniversitários", completou, antes de ser aplaudido de pé.
"Um utilitarismo sem ética leva ao totalitarismo. Quando apenas a utilidade e o pragmatismo imediato se erguem como critério principal, as perdas podem ser dramáticas: desde os abusos de uma ciência sem limites, além dela mesma, até o totalitarismo político que se aviva facilmente quando se elimina qualquer referência superior ao mero cálculo de poder", observou.
Bento XVI recordou, em contraste, a grande vida intelectual interdisciplinar que havia em seu período como docente na Universidade de Bonn, após a guerra. "Quando ainda se curavam as feridas da guerra, a ilusão por uma atividade apaixonante supria tudo, o trato com colegas das diversas disciplinas e o desejo de responder às inquietações últimas e fundamentais dos alunos". "A universidade encarna, pois, um ideal que não deve ser desvirtuado nem por ideologias fechadas ao diálogo racional, nem por servilismos a uma lógica utilitarista de simples mercado, que vê o homem como mero consumidor. Aí está vossa importante e vital missão", destacou.
"Amnésia"
Em outro encontro, com 2 mil jovens religiosas congregadas no monastério de El Escorial, nas proximidades de Madri, Bento XVI lamentou o que chamou de "eclipse" de Deus na sociedade moderna. "Constata-se uma espécie de eclipse de Deus, uma certa amnésia, mais ainda, um verdadeiro rechaço ao Cristianismo", afirmou. "Uma negação do tesouro da fé recebida, com o risco de perder aquilo que mais profundamente nos caracteriza."
O Pontífice participou ainda de um encontro com voluntários da Jornada Mundial da Juventude e se reuniu com o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero.