"Indignados" protestam contra visita
No segundo dia da visita do Papa Bento XVI à Espanha, manifestantes se reuniram na estação de trem e metrô Atocha e marcharam até a Puerta del Sol, próxima à Praça Cibeles, onde o Pontífice discursou mais tarde. Nove vans da polícia espanhola acompanharam a manifestação.
"Chega de brutalidade policial", dizia uma faixa dos manifestantes. Os jovens espanhóis protestaram contra os gastos do governo com a visita de Bento XVI num momento em que o país está em crise econômica. O desemprego na Espanha está em 21% da força de trabalho.
Os manifestantes, pertencentes sobretudo ao movimento dos "indignados", que surgiu na Espanha em maio, tentavam chegar pelas ruas adjacentes à Praça Cibeles, para a qual se dirigia uma procissão. No local esperavam muitos fiéis católicos, mas a polícia barrou os manifestantes.
"Não nos metemos com ninguém", dizia Elsa, uma desempregada de 45 anos que propunha deixar de "pagar impostos para que este senhor não viaje às nossas custas", em referência ao Papa.
Na quinta-feira, o Vaticano afirmou que as despesas da viagem do Papa são pagas com dinheiro do governo. (AE)
Depoimento
Esperança e expectativas
Fábio Luporini, repórter do Jornal de Londrina, de Madri
Receber a bênção do Papa Bento XVI duas vezes em dois dias era sonho. Agora, para mim, é realidade. Um Pontífice, em princípio reservado, que conquistou o coração da juventude de todo o mundo. Gente de todos os cantos, esperando mais de cinco horas para garantir um bom lugar e ouvir as palavras do Santo Padre.
Tive a sensação de que o homem Joseph Ratzinger estava cansado, talvez pela idade ou pela envergadura do cargo sua visita ao Brasil em 2007, no encontro com os jovens no Pacaembu, foi mais calorosa e mais animada. Como um desabafo de quem, como poucos conseguem reunir multidões tão grandes em tantos dias, o Papa pediu forças para cristãos aguentarem os desafios da religião. "A Paixão de Cristo nos impulsiona a carregar sobre os ombros o sofrimento do mundo." Há sempre uma esperança. "A cruz não foi um fracasso, mas uma experiência amorosa de entrega."
Bento XVI pode não ser tão carismático quanto o antecessor, João Paulo II, mas surpreende. Durante o trajeto do papa-móvel, o Santo Padre pediu que parassem o veículo para que ele pudesse abençoar uma criança.
Ainda faltam alguns momentos de oração, vigília e missa de envio com o Papa. Expectativas superadas a cada encontro, a cada olhar, a cada bênção. Esta Jornada Mundial da Juventude (JMJ) já está ficando com um gostinho de quero mais.
Madri - O Papa Bento XVI afirmou ontem que a universidade deveria voltar à sua autêntica vocação, que "busca a verdade própria da pessoa humana", e criticou a redução "utilitarista" do ensino que busca apenas satisfazer "a demanda trabalhista".
"Às vezes se pensa que a missão de um professor universitário hoje seja exclusivamente a de formar profissionais competentes e eficazes que satisfaçam a demanda trabalhista em cada momento preciso", destacou o Papa para 1.500 professores universitários, na Basílica de San Lorenzo del Escorial, a 50 km de Madri. "Também se diz que a única coisa que se deve privilegiar na presente conjuntura é a mera capacitação técnica. Certamente, se espalha na atualidade esta visão utilitarista da educação, também a universitária, difundida especialmente a partir de âmbitos extrauniversitários", completou, antes de ser aplaudido de pé.
"Um utilitarismo sem ética leva ao totalitarismo. Quando apenas a utilidade e o pragmatismo imediato se erguem como critério principal, as perdas podem ser dramáticas: desde os abusos de uma ciência sem limites, além dela mesma, até o totalitarismo político que se aviva facilmente quando se elimina qualquer referência superior ao mero cálculo de poder", observou.
Bento XVI recordou, em contraste, a grande vida intelectual interdisciplinar que havia em seu período como docente na Universidade de Bonn, após a guerra. "Quando ainda se curavam as feridas da guerra, a ilusão por uma atividade apaixonante supria tudo, o trato com colegas das diversas disciplinas e o desejo de responder às inquietações últimas e fundamentais dos alunos". "A universidade encarna, pois, um ideal que não deve ser desvirtuado nem por ideologias fechadas ao diálogo racional, nem por servilismos a uma lógica utilitarista de simples mercado, que vê o homem como mero consumidor. Aí está vossa importante e vital missão", destacou.
"Amnésia"
Em outro encontro, com 2 mil jovens religiosas congregadas no monastério de El Escorial, nas proximidades de Madri, Bento XVI lamentou o que chamou de "eclipse" de Deus na sociedade moderna. "Constata-se uma espécie de eclipse de Deus, uma certa amnésia, mais ainda, um verdadeiro rechaço ao Cristianismo", afirmou. "Uma negação do tesouro da fé recebida, com o risco de perder aquilo que mais profundamente nos caracteriza."
O Pontífice participou ainda de um encontro com voluntários da Jornada Mundial da Juventude e se reuniu com o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero.