O papa Francisco criticou nesta sexta-feira (20) a resposta do governo do presidente da Argentina, Javier Milei, a protestos ocorridos em Buenos Aires no último dia 11, quando a Câmara dos Deputados manteve o veto do mandatário a uma lei de reforma previdenciária.
Segundo informações do jornal Clarín, Francisco fez as críticas durante um evento no Vaticano com dirigentes de esquerda e de movimentos sociais argentinos, entre eles, o peronista Juan Grabois, seu amigo e que no ano passado foi pré-candidato à presidência do país sul-americano.
“Eles me fizeram ver uma repressão, talvez há uma semana ou um pouco menos. Trabalhadores, pessoas que pediam seus direitos nas ruas. E a polícia os rechaçou com uma coisa que é a coisa mais cara que existe, aquele spray de pimenta de primeira qualidade. E não tinham o direito de reivindicar o que era deles, porque eram rebeldes, comunistas, não, não. O governo se manteve firme e em vez de pagar pela justiça social, pagou pelo spray de pimenta, era o que lhe era conveniente”, disse o papa.
“Esta atitude arrogante é o oposto da compaixão: regozijar-se com a própria supremacia sobre aqueles que estão em pior situação”, acrescentou o papa.
No último dia 11, milhares de manifestantes convocados por organizações sociais de esquerda e grupos de oposição e de aposentados se concentraram em frente ao Congresso argentino para pressionar os deputados a reverter o veto de Milei a uma reforma previdenciária que, segundo o governo, comprometeria a meta de déficit zero.
Depois que a manutenção do veto foi confirmada, parte dos manifestantes começou a derrubar as cercas ao redor do Palácio Legislativo e ocorreu um tumulto.
O porta-voz da presidência argentina, Manuel Adorni, preferiu não fazer maiores comentários sobre as críticas do papa.
“É a opinião do papa Francisco, que ouvimos e sobre a qual refletimos. Não precisamos compartilhar a visão que ele tem sobre algumas questões. O respeito é total. Não há muito mais a dizer”, afirmou.
Entretanto, o prefeito da cidade de Buenos Aires, Jorge Macri, cuja gestão participa do protocolo para conter tumultos durante protestos na capital, não foi na mesma linha e disse que o papa precisava estar na cidade para entender o que realmente aconteceu.
“Sou uma pessoa de fé, mas para dar uma opinião é preciso estar aqui e entender o que está acontecendo, não fazer reducionismo de um fato particular ou ouvir apenas um lado”, disse Macri, em entrevista à Rádio Rivadavia.
Nesta sexta-feira, Francisco também relatou que um empresário estrangeiro lhe contou que um ministro argentino teria pedido propina para fazer investimentos no país. O papa não deixou claro se o caso teria ocorrido na gestão Milei ou em governos anteriores.
Macri, que é primo do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), pediu esclarecimentos. “Também houve comentários sobre supostas propinas. Se ocorreram ou não, não sei se é verdade, e se for verdade, alguém deveria denunciar. Mas aconteceu de tudo na Argentina e só agora [Francisco faz] esses comentários? Isso me dói, porque precisamos seguir em frente”, disse o prefeito de Buenos Aires.