O Bispo de Roma denunciou que o homem está destruindo a natureza, a criação e as relações humanas| Foto: Reuters/Max Rossi

O papa Francisco disse nesta quarta-feira (5) que o ser humano está em "perigo", que no mundo "não manda o homem, mas o dinheiro" e que embora a crise seja profunda e todos saibam disso, "o sistema continua como antes, já que o que domina é uma economia e um sistema financeiro carente de ética".

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Diante de mais de 80 mil pessoas reunidas na Praça de São Pedro para a audiência das quartas-feiras, o papa lembrou que hoje acontece a Jornada Mundial do meio Ambiente e ressaltou a necessidade de cuidar da natureza e de acabar com o desperdício e a destruição de alimentos.

O Bispo de Roma denunciou que o homem está destruindo a natureza, a criação e as relações humanas.

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"Estamos vivendo um momento de crise, vemos isso no ambiente, mas sobretudo no homem. O ser humano está em perigo e o perigo é grave porque a causa do problema não é superficial, mas profunda, não é só uma questão de economia, mas de ética e de antropologia", afirmou.

O pontífice destacou que a Igreja disse isso em várias ocasiões: "Muitos dizem 'sim, é verdade'... mas o sistema continua como antes, já que o que domina são as dinâmicas de uma economia e de um sistema financeiro carente de ética", acrescentou.

"Assim, homens e mulheres são sacrificados aos ídolos do lucro e do consumo. É a cultura do resíduo, do descarte. Se um computador quebra é uma tragédia, mas a pobreza, os necessitados, os dramas de tantas pessoas acabam por entrar na normalidade", denunciou.

Sua denúncia foi além e com veemência acrescentou: "no mundo não manda o homem, o que manda é o dinheiro. No entanto, Deus deu ao homem a obrigação de custodiar a terra, não se a deu ao dinheiro".

Nessa linha, o papa argentino acrescentou que se um homem morre de frio em uma praça ou várias crianças morrem de fome "isso entra na normalidade" e o mundo não se escandaliza, mas que se a Bolsa de Valores de uma cidade baixa dez pontos, "é uma tragédia mundial".

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Francisco acrescentou que essa "cultura do resíduo, do descarte" se está transformando em "mentalidade comum que contagia todos".

"A vida humana, as pessoas não são vistas já como o valor primário que é preciso respeitar e cuidar, sobretudo se forem pobres ou doentes, mas ainda não servem - como o nascituro - ou não servem mais, como o idoso".

"Essa cultura do desperdício - continuou - nos torna insensíveis também ao gasto exagerado de alimentos, que é ainda mais desprezível quando em todas partes do mundo muitas pessoas têm fome e desnutrição", criticou.

O papa Francisco lembrou que nossos avós tinham muito cuidado em não jogar fora a comida que sobrava, mas ressaltou que o consumismo nos induziu a nos acostumarmos com o supérfluo, ao desperdício diário de comida e muitas vezes "já não somos capazes nem de dar o valor merecido, que vai além dos parâmetros econômicos".

"Lembremos sempre que a comida que jogamos fora é como se a tivéssemos roubado da mesa de quem é pobre, de quem tem fome", manifestou.

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Francisco exortou aos fiéis a respeitar a criação e cuidar das pessoas, de contrastar a cultura do esbanjamento e do descarte e de promover uma cultura da solidariedade e do encontro.

Sobre a criação, o papa citou o livro do Gênesis e disse que Deus pôs o homem e a mulher na terra para que cultivassem e cuidassem da criação, mas que o homem "guiado pela soberba do dominar, do possuir, do manipular, do explorar a terra, não a custódia, não a respeita e não a considera uma doação gratuita a cuidar".

Estiveram na audiência milhares de fiéis da Espanha, Colômbia, Uruguai, Argentina, México e outros países latino-americanos, a quem o papa convidou a respeitar e cuidar da criação e promover uma cultura de solidariedade.

Antes de começar seu discurso, como já é de costume, Bergoglio percorreu a Praça de São Pedro no papamóvel.