O Papa Bento XVI celebrou uma missa campal nesta terça-feira na cidade em que havia programado passar sua aposentadoria, e rejeitou o uso do nome de Deus como justificativa para o ódio e o fanatismo.
Falando a milhares de pessoas reunidas nos arredores da cidade de Regensburg, na Baviera, ele também ratificou sua posição de que a ciência não é capaz de oferecer uma explicação sobre as origens do mundo que exclua a influência de Deus.
Bem-disposto e vestido de dourado e branco, o Papa de 79 anos celebrou a missa em um enorme altar coberto por uma tenda. A polícia estimou o número de pessoas presentes em mais de 260 mil. Os organizadores pretendiam atrair 350 mil pessoas para a missa.
O Pontífice disse que os cristãos acreditam num Deus cheio de amor que se mostrou ao mundo na pessoa de Jesus Cristo. Os cristãos, afirmou ele, aprenderam a reconhecer "os modos como a imagem de Deus pode ser destruída pelo ódio e pelo fanatismo".
- É importante declarar com clareza o Deus em que acreditamos, e proclamar, com convicção, que esse Deus tem um rosto humano - disse.
O Papa não mencionou nenhuma religião específica, mas no passado já pediu a líderes muçulmanos que ajudassem a combater o terrorismo ensinando que a violência não pode ser usada em nome de Deus.
Na semana passada, Bento XVI afirmou que ninguém tem o direito de usar a religião para justificar o terrorismo, e fez um apelo por um diálogo maior entre as religiões para pôr fim ao ciclo vicioso de ódio e vingança e evitar que ele atinja as próximas gerações.
Na segunda-feira, terceiro dia de sua viagem à Alemanha, ele rezou pelas vítimas dos ataques de 11 de setembro de 2001.
Em sua homilia, o Papa também disse que as tentativas históricas de negar a existência de Deus pelo uso da razão fracassaram. Segundo ele, desde o Iluminismo, no século 18, muitos setores do mundo científico tentaram buscar "uma explicação para o mundo na qual Deus fosse desnecessário".
Bento XVI rejeitou a idéia de que o homem e a razão sejam "nada mais que o resultado aleatório da evolução".
Na tarde de terça-feira o chefe da Igreja Católica daria uma palestra a cientistas na universidade onde deu aulas, e participaria de uma cerimônia ecumênica com representantes de outras denominações cristãs e líderes judaicos locais.
Regensburg é uma cidade medieval em que Bento XVI deu aulas de teologia entre 1969 e 1977, e onde ele esperava passar seus anos de aposentadoria para escrever mais uma obra de teologia.
Quando ainda era o cardeal Joseph Ratzinger, ele pediu duas vezes ao papa João Paulo II que lhe concedesse a aposentadoria, mas o pedido foi recusado.
Na quarta-feira, o Papa vai ter um "dia particular", segundo o Vaticano, na região, e deve visitar a casa em que esperava passar sua aposentadoria.
- É o acontecimento do século daqui - disse Elfriede Sontag, de 54 anos, que assistiu à missa com sua família. - É ótimo ter um papa bávaro. De certo modo, o mais importante é estarmos juntos e aproveitar o clima, mais que levar a religião muito a sério - acrescentou ela.