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Em conversa com jornalistas no voo de volta da Mongólia, nesta segunda-feira (4), o papa Francisco explicou as declarações que deu a respeito da “grande Rússia” e que geraram críticas por parte da Ucrânia.
“Talvez não tenha sido a melhor maneira de colocar a questão, mas ao falar da grande Rússia, eu estava pensando não tanto geograficamente, mas culturalmente”, disse Francisco nesta segunda-feira. “Foi um comentário improvisado que me veio à mente porque estudei [história da Rússia] na escola.”
“A cultura russa é de tanta beleza, de tanta profundidade. Não deveria ser cancelada por causa de problemas políticos. Houve anos políticos sombrios na Rússia, mas a herança está lá, disponível para todos”, afirmou o papa.
Numa videoconferência com jovens católicos russos no dia 25 de agosto, Francisco disse: “Vocês são herdeiros da grande Rússia – a grande Rússia dos santos, dos reis, a grande Rússia de Pedro, o Grande, de Catarina II, o grande Império Russo, culto, tanta cultura, tanta humanidade. Vocês são os herdeiros da grande mãe Rússia. Sigam em frente”.
Os dois czares citados pelo papa promoveram a expansão do Império Russo durante os séculos 17 e 18, anexando inclusive regiões da Ucrânia, e a menção de Francisco a ambos foi criticada por Kiev.
Oleg Nikolenko, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, escreveu no Facebook que “é precisamente com esta propaganda imperialista, [sobre] os ‘laços espirituais’ e a ‘necessidade’ de salvar a ‘grande Mãe Rússia’ que o Kremlin justifica o assassinato de milhares de ucranianos e a destruição de cidades e aldeias ucranianas”.
Em comunicado divulgado dias depois, o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, negou que a intenção do papa tenha sido enaltecer o imperialismo russo.
“O papa pretendia encorajar os jovens a preservar e promover tudo o que há de positivo na grande herança cultural e espiritual russa, e certamente não exaltar a lógica imperialista e personalidades governamentais, mencionadas para indicar alguns períodos históricos de referência”, afirmou Bruni.
Na conversa com os jornalistas nesta segunda-feira, Francisco também comentou as relações com a China, estremecidas pela interferência de Pequim na Igreja: o Partido Comunista Chinês persegue religiosos, promove um processo de “sinização” na instituição e não respeita um acordo feito com o Vaticano, por meio do qual a China indica bispos para dioceses no país, mas a palavra final é da Santa Sé.
“Penso que temos que avançar no aspecto religioso para nos entendermos melhor, para que os cidadãos chineses não pensem que a Igreja não aceita a sua cultura e os seus valores e não pensem que a Igreja representa outro poder estrangeiro”, disse Francisco.
“As relações com a China são muito respeitosas. Pessoalmente, tenho grande admiração pelo povo chinês”, acrescentou o papa.