O Papa Francisco disse neste sábado (30) que abdicar de seu papado, como fez o seu antecessor Bento XVI, não estaria fora de cogitação. Após uma peregrinação de uma semana pelo Canadá que ele considerou um teste de resiliência, a bordo do avião papal, o pontífice, que está com 85 anos, disse a repórteres que “a porta está aberta” para a abdicação e que não haveria nada de errado com a decisão, embora ele não tenha pensado a sério nisso até agora.
“Não é estranho. Não é uma catástrofe. Pode-se mudar o papa”, disse o chefe da Igreja Católica. Ele falou de uma cadeira de rodas, pois tem lesões em ligamentos do joelho direito. Refletindo sobre a limitação física e a idade, Francisco declarou que precisa se poupar um pouco mais para ser capaz de servir à igreja. “Caso contrário”, se não conseguir preservar a saúde, “penso na possibilidade de sair”.
Foi a primeira viagem em que o Papa precisou de cadeira de rodas, bengala e andador para poder interagir com os fiéis. Ele expressou dor ao se levantar de cadeiras e se locomover. Os médicos estão aplicando no joelho terapia magnética e terapia de laser. Por causa do problema, o Vaticano teve de cancelar uma viagem à África na primeira semana de julho.
Não é o primeiro problema sério de saúde: em julho de 2021, cirurgiões removeram mais de 30 centímetros de seu intestino grosso. A cirurgia durou mais de seis horas. Na coletiva de imprensa, ele parecia animado e disse que quer continuar viajando “para ficar perto do povo, porque penso é um jeito de servir, de estar próximo”. Ele tem esperança de poder ir ao Cazaquistão em setembro para um congresso ecumênico onde poderá encontrar o Patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, que deu justificativas para a guerra da Ucrânia. Também pretende ir a Kiev e cumprir a agenda cancelada na África.
O pontífice aproveitou a viagem ao Canadá para pedir perdão aos povos indígenas por injustiças que sofreram em internatos administrados pela igreja no país. Crianças eram tomadas de suas famílias e postas nos internatos para serem catequizadas e aculturadas como canadenses. O sistema de internatos foi acusado de promover um “genocídio cultural” contra os nativos por uma comissão do governo do país em 2015.
Francisco disse que só não usou esse termo porque não pensou nele. “Mas eu descrevi o genocídio, não?”, devolveu a pergunta aos repórteres. “Pedi perdão por essa obra, que foi genocídio”.
Ele também comentou possíveis novos desenvolvimentos na posição da igreja sobre os contraceptivos artificiais. No Vaticano, debates internos à igreja têm discutido o “não” absoluto da doutrina a esses métodos para evitar a gravidez. O Papa não sinalizou que alguma mudança acontecerá, enfatizou que a doutrina pode se desenvolver com o tempo, a depender dos debates dos teólogos, mas que a decisão é dele (ou de um sucessor).
Francisco informou a respeito dos ensinamentos da igreja sobre as armas nucleares, que mudou em seu pontificado para considerar pecaminoso não apenas seu uso, mas sua posse. Também comentou que para a igreja a pena de morte é imoral em todos os casos.