A cruzada do Papa Francisco contra a corrupção fez dele um alvo para o maior dos clãs mafiosos da Itália, a Ndragheta, disse nesta quarta-feira (13) o procurador-adjunto de Reggio Calabria, Nicola Gratteri. A advertência do perito na luta contra o crime organizado no país foi feita numa entrevista ao jornal italiano "Il Foglio Quotidiano".
A máfia calabresa, a Ndragheta, é pouco conhecida fora de Itália, mas é mais poderosa e violenta que a siciliana ou a napolitana e nas últimas décadas, espalhou-se por países como a Alemanha, Reino Unido ou Austrália. Em conjunto, as quatro máfias do país, incluindo a de Puglia, controlam uma atividade econômica equivalente a quase um quarto do PIB italiano.
O especialista na luta contra o crime organizado lembrou que "antigos patrocinadores de gorro deixaram de existir, estão mortos ou na cadeia." De acordo com ele, alguns dos mafiosos há anos se beneficiam da conivência da Igreja Católica. Na segunda-feira, o Pontífice argentino criticou cristãos que levam uma vida dupla por dar dinheiro à Igreja, enquanto roubam do Estado.
"O Papa está num caminho correto e o seu objetivo é a limpeza total nas finanças do Vaticano. E quem se tem aproveitado até agora do poder e da riqueza que vêm de negócios ilegais da Igreja está começando a ficar nervoso. Eu não sei se os mafiosos estão em uma posição de fazer alguma coisa, mas eles certamente estão pensando nisso", afirmou.
De acordo com Gratteri, 88% dos mafiosos se declaram católicos. Antes de matar alguém, um mafioso calabrês reza à Virgem Maria para pedir proteção. Tanto João Paulo II quanto Bento XVI denunciaram a máfia, mas não conseguiram retirar o disfarce de católicos que protegem alguns dos chefes e assassinos particulares.
Na segunda-feira, em uma de suas homilias mais fortes desde que foi eleito, Francisco citou uma passagem da Bíblia na qual diz que alguns pecadores merecem ser amarrados a uma pedra e atirados ao mar, em uma referência clara à corrupção.
"Jesus diz: 'Seria melhor para ele se colocasse uma pedra ao pescoço e fosse atirado ao mar'".
O Papa descreveu as pessoas envolvidas em corrupção como tumbas, "bonitas por fora, mas por dentro cheias de ossos de mortos e de putrefação". Segundo ele, são pecadores que merecem ser punidos.