O papa Francisco qualificou nesta quarta-feira (16) de "escândalo" a existência da fome e da desnutrição no mundo e criticou "o consumismo, o esbanjamento e o desperdício de alimentos" em mensagem enviada ao diretor da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, por ocasião da Dia Mundial da Alimentação.
Em sua mensagem, que foi lida nesta quarta-feira (16) durante a celebração da jornada na sede da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), em Roma, o papa considerou que um "dos desafios mais sérios para a humanidade é o da trágica condição na qual ainda vivem milhões de pessoas famintas e desnutridas, entre elas muitas crianças".
O pontífice convocou todas as partes da sociedade a "enfrentar juntos" este problema "para conseguir uma solução justa e duradoura" e para que "ninguém se veja obrigado a abandonar sua terra e seu próprio entorno cultural pela falta dos meios essenciais de subsistência".
Francisco ressaltou o paradoxo de como a globalização revela as situações de necessidade das pessoas no mundo todo, e no entanto "cresce a tendência ao individualismo" e à "indiferença tanto em nível pessoal como das instituições e dos Estados em relação a quem morre de fome ou padece de desnutrição".
"A fome e a desnutrição nunca podem ser consideradas um fato normal que precisamos nos acostumar, como se fizesse parte do sistema. Algo tem que mudar em nós mesmos, em nossa mentalidade, em nossas sociedades", afirmou o pontífice argentino.
Para o papa, é necessário, "hoje mais que nunca, educar para a solidariedade, redescobrir o valor e o significado desta palavra tão incômoda, e muito frequentemente deixada de lado, e fazer com que se transforme em atitude ao fundo das decisões no plano político, econômico e financeiro, nas relações entre as pessoas, entre os povos e entre as nações".
Sobre os dados da FAO que revelam que 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçadas por ano, Francisco levantou a questão "sobre a necessidade de mudar realmente nosso estilo de vida, incluído o alimentício".
Um estilo de vida, acrescentou, que "em tantas áreas do planeta está marcado pelo consumismo, o esbanjamento e o desperdício de alimentos".
Os dados proporcionados pela FAO indicam que aproximadamente um terço da produção mundial de alimentos não está disponível por causa de perdas e esbanjamentos cada vez maiores.
"Bastaria eliminá-los para reduzir drasticamente o número de famintos", clamou o pontífice.
Diante dos dados que revelam que 870 milhões de pessoas sofrem fome e desnutrição, o papa Francisco lamentou: "é o triste sinal da globalização da indiferença, que nos acostuma lentamente a ver o sofrimento dos outros como algo normal".