A valorização do matrimônio e da transmissão da fé foram os temas em destaque no 8º Encontro Mundial das Famílias (EMF), evento internacional que foi encerrado pelo papa Francisco neste domingo (27), na Filadélfia, Estados Unidos. Outros pontos do ensino moral católico, como a defesa da vida desde a concepção e a liberdade religiosa, também fizeram parte dos discursos do pontífice em sua passagem pela cidade, considerada o berço da democracia norte-americana.
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Sínodo dos bispos em outubro tratará de temas polêmicos
Na próxima semana, a partir do dia 4 de outubro, bispos de todo o mundo se reúnem no Vaticano para o Sínodo sobre a Família, encontro que discutirá “desafios pastorais da família no contexto da evangelização”. Alguns analistas atribuem ao encontro o momento oportuno para mudanças significativas na visão da Igreja sobre temas como casamento gay, contraceptivos ou mesmo aborto. Mas se os discursos de Francisco e de outros representantes da Igreja no EMF servirem de antecipação sobre os caminhos a serem adotados, a coerência com o ensino tradicional da Igreja em temas morais deve ser mantido.
Num dos momentos mais surpreendentes de sua visita aos Estados Unidos, Francisco abandonou o trajeto previsto em Washington e fez uma visita surpresa às Pequenas Irmãs dos Pobres, congregação religiosa que luta na justiça contra o governo de Barack Obama. Em 2012, o governo determinou que todas as instituições administradas pela congregação, como centros de caridade e hospitais, passassem a oferecer “assistência sanitária” aos funcionários, o que prevê o financiamento de esterilizações, abortos e distribuição de anticoncepcionais. As irmãs invocam o direito à objeção de consciência para não aderir à medida. “Este é um sinal evidente de seu apoio a elas”, disse o porta-voz do papa, padre Frederico Lombardi, ao comentar a opção do pontífice em visitá-las.
O roteiro que guiará os debates do sínodo, chamado de Instrumentum Laboris, publicado em junho, também aponta para o reforço da doutrina, embora inovações no modo de expressá-la sejam admissíveis. Em relação às uniões homossexuais, por exemplo, o documento reafirma a posição contrária da Igreja, mas destaca que “cada pessoa, independentemente, da sua tendência sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com sensibilidade e delicadeza”, orientação bastante semelhante à que já consta no Catecismo da Igreja Católica. A assembleia ocorrerá de 4 a 25 de outubro.
Em missa celebrada no sábado, na Catedral da Filadélfia, Francisco exortou as famílias cristãs a assumirem o protagonismo na transmissão da fé, sem dependerem necessariamente de iniciativas do clero. “Sabemos que o futuro da Igreja, numa sociedade em rápida mudança, exige um compromisso cada vez mais ativo por parte dos leigos”, disse o papa, destacando o papel que as mulheres católicas tiveram na história do país, especialmente na fundação de escolas.
Mais tarde, em encontro realizado no Independence Hall, onde foi assinada a declaração de independência dos Estados Unidos, o pontífice denunciou a “tirania moderna” que procura suprimir a liberdade religiosa, ou reduzi-la a uma subcultura, tentando excluir a fé da vida pública. Para Francisco é urgente que os seguidores de diferentes religiões unam sua voz para invocar a tolerância e o respeito por seus credos.
A defesa da instituição familiar foi retomada à noite, no Festival das Famílias, concerto a céu aberto que reuniu diversos artistas em apresentações para um público de quase 1,5 milhões de pessoas. Após ouvir o testemunho de seis famílias, vindas de diferentes continentes, o papa afirmou que “uma sociedade cresce forte e sólida quando se edifica na família”.
Na ocasião, o papa recebeu as relíquias de Gianna Beretta Molla, uma pediatra italiana, mãe de quatro filhos, canonizada em 2004. Sua história se tornou conhecida depois de ela ter se submetido a uma arriscada cirurgia para não ter de abortar seu quarto bebê. A própria filha da santa, Gianna Emanuelle, entregou ao papa o relicário com os restos mortais da mãe.
Brasileiros
O médico Danilo Silva, 34 anos, de Curitiba, foi um dos brasileiros que viajaram aos Estados Unidos para acompanhar o evento. Ele, a esposa e seus sete filhos acolheram jovens norte-americanos em sua casa, em 2013, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, ocorrida no Rio de Janeiro. O contato os motivou a planejar a viagem.
Depois de economizarem durante um ano, juntaram-se a outras famílias com o mesmo objetivo e promoveram jantares e outros eventos para arrecadar fundos. “Queríamos ver o papa Francisco novamente, mas agora é diferente de 2013. Naquela ocasião o foco eram os jovens. Aqui vemos muito mais crianças, bebês e famílias inteiras”, conta Danilo.
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