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Bispo lê a exortação apostólica do papa Francisco durante a leitura pública do documento | Reuters/Alessandro Bianchi
Bispo lê a exortação apostólica do papa Francisco durante a leitura pública do documento| Foto: Reuters/Alessandro Bianchi

O papa Francisco divulgou nesta terça-feira (26) um documento no qual delineia a missão de seu pontificado, detalhando como a Igreja Católica e o próprio papado devem ser reformados para criar uma igreja mais missionária e misericordiosa, destinando atenção especial aos pobres. É o primeiro grande trabalho que Francisco escreveu sozinho como papa.

No texto, conhecido como exortação apostólica, o Pontífice argentino faz um apelo pela renovação da Igreja Católica Romana e ataca o capitalismo irrestrito como "uma nova tirania", instando líderes globais a combaterem a pobreza e a desigualdade.

Chamada de "Evangelii Gaudium" (A alegria do Evangelho), a exortação é apresentada em estilo de pregação simples e acolhedora, distinta dos escritos mais acadêmicos de antigos papas. Francisco afirma que a renovação da Igreja não pode ser adiada e que o Vaticano e sua hierarquia arraigada "também precisam de ouvir o apelo à conversão pastoral".

Sem mudança na questão do aborto

Ainda no documento, elaborado após os trabalhos do Sínodo de Bispos, realizado de 7 a 28 de outubro de 2012, o papa Francisco afirmou que "não deve se esperar que a Igreja mude sua postura" sobre a questão do aborto pois este assunto não está sujeito a "supostas reformas ou modernizações" e opinou que "não é progressista pretender resolver os problemas eliminando uma vida humana".

No entanto, Francisco reconheceu que "também é verdade que fizemos pouco para acompanhar as mulheres que se encontram em situações muito duras, onde o aborto se apresenta como uma rápida solução para suas profundas angústias, particularmente quando a vida que cresce nelas surgiu como produto de um estupro ou em um contexto de extrema pobreza".

"Quem pode deixar de compreender essas situações de tanta dor?", perguntou.

Segundo o pontífice, "a Igreja quer cuidar com predileção das crianças por nascer, que são os mais indefesos e inocentes de todos, a quem hoje se quer negar sua dignidade humana para se fazer com eles o que se deseja, tirando-lhe a vida e promovendo leis para que ninguém possa impedir".

O bispo de Roma acrescentou que "frequentemente para ridicularizar a defesa que a Igreja faz de suas vidas, procura-se apresentar sua postura como algo ideológico, obscurantista e conservador".

No entanto, esta defesa da vida por nascer "está intimamente ligada à defesa de qualquer direito humano", sustentou.

"Representa", acrescentou o papa, "a convicção de que um ser humano é sempre sagrado e inviolável, em qualquer situação e em cada etapa de seu desenvolvimento".

Sem mulheres no sacerdócio

A exortação apostólica elaborada pelo papa Francisco não concede às mulheres qualquer possibilidade de sacerdócio, mas considera "que elas devem ter um maior espaço e uma presença mais incisiva" na Igreja Católica.

O papa assegura ao introduzir o tema que "a Igreja reconhece a indispensável contribuição da mulher na sociedade", pois "a sensibilidade, a intuição e capacidades peculiares costumam ser mais próprias das mulheres que dos homens".

Entre elas, o papa cita a "especial atenção feminina rumo aos outros, que se expressa de um modo particular, embora não exclusivo, na maternidade".

Jorge Bergoglio explica que já há mulheres que compartilham responsabilidades pastorais junto com os sacerdotes, mas também reconhece que é necessário ampliar os espaços para uma presença feminina mais incisiva na Igreja.

"Porque o gênero feminino é necessário em todas as expressões da vida social, por isso que é preciso garantir a presença das mulheres também no âmbito laboral e nos diversos lugares onde são tomadas as decisões importantes, tanto na Igreja como nas estruturas sociais", acrescenta o pontífice argentino.

Para o papa, "as reivindicações legítimas" dos direitos das mulheres sobre sua igualdade com os homens colocam à Igreja profundas perguntas "que a desafiam e que não se podem eludir superficialmente".

Francisco ressalta que o que não se pode mudar é que "o sacerdócio está reservado aos varões, como um sinal de Cristo marido que se entrega na Eucaristia" e que se trata "de uma questão que não se coloca em discussão".

O papa lembra que na Igreja as funções (como dar a Eucaristia, etc) "não dão lugar à superioridade dos uns sobre os outros" e lembra que "uma mulher, Maria, é mais importante que os bispos".

Fechado o tema do sacerdócio, o papa lança um desafio aos "pastores e aos teólogos" para que ajudem "a reconhecer melhor o que isto implica com relação ao possível lugar da mulher ali onde se tomam decisões importantes, nos diversos âmbitos da Igreja".

Pedido por mais protagonismo dos jovens

Em sua exortação, o papa também dedica amplo espaço aos jovens e pede que eles sejam mais protagonistas.

O papa explica que perante as mudanças sociais que se produziram, os jovens não costumam encontrar nas atuais estruturas da Igreja Católica respostas a suas inquietações, necessidades, problemáticas e feridas.

Francisco explica que aos adultos "custa escutá-los com paciência, compreender suas inquietações e suas reivindicações, e aprender a fala na linguagem que eles compreendem".

Por essa mesma razão, "as propostas educativas não produzem os frutos esperados".

O papa pede que os jovens sejam ouvidos "porque levam em si as novas tendências da humanidade" e acrescenta que "abrem ao futuro, de modo que não fiquemos ancorados na nostalgia de estruturas e costumes que já não são leitos de vida no mundo atual".

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