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O papa Francisco e o principal clérigo muçulmano do Iraque, o aiatolá Ali al-Sistani, protagonizaram neste sábado (6) um raro e histórico encontro entre um pontífice e um líder xiita. A reunião ocorreu na cidade sagrada de Najaf, onde os dois religiosos transmitiram uma mensagem de coexistência pacífica e exortaram islâmicos iraquianos a abraçarem a minoria cristã, alvo de perseguição no país.
O Aiatolá Ali al-Sistani disse que as autoridades religiosas têm um papel na proteção dos cristãos do Iraque, que devem viver em paz e desfrutar dos mesmos direitos que os outros iraquianos. O Vaticano informou que Francisco agradeceu a al-Sistani por ter "levantado sua voz em defesa dos mais fracos e perseguidos" durante alguns dos momentos mais violentos da história recente da nação árabe.
Al-Sistani, de 90 anos, é um dos clérigos mais antigos do islamismo xiita e suas raras, mas poderosas, intervenções políticas ajudaram a moldar o Iraque atual. Ele é uma figura profundamente reverenciada no país de maioria xiita e suas opiniões sobre questões religiosas e outras são buscadas por xiitas em todo o mundo.
O encontro histórico na casa de al-Sistani aconteceu após meses de organizações, com cada detalhe meticulosamente discutido e negociado entre o gabinete do aiatolá e o Vaticano. Na manhã de sábado, o pontífice de 84 anos, viajando em um Mercedes-Benz à prova de balas, parou em uma rua estreita de Najaf, que culmina na cúpula dourada do Santuário Imam Ali, um dos locais mais reverenciados no Islã xiita. Ele então caminhou alguns metros até a casa de al-Sistani.
O papa tirou os sapatos antes de entrar no quarto de al-Sistani e foi servido chá e uma garrafa plástica de água. Al-Sistani falou durante a maior parte da reunião. Francisco fez uma pausa antes de sair do quarto de al-Sistani para dar uma última olhada, disse um oficial que testemunhou o evento.
Papa condena extremismo religoso
Mais tarde, o pontífice foi à antiga cidade de Ur para um encontro ecumênico no tradicional local de nascimento de Abraão, o patriarca bíblico reverenciado por cristãos, muçulmanos e judeus, onde condenou o extremismo religioso.
"Hostilidade, extremismo e violência não nascem de um coração religioso", disse o pontífice. "Eles são traições da religião". "Nós, crentes, não podemos ficar calados quando o terrorismo abusa da religião. Na verdade, somos chamados inequivocamente para dissipar todos os mal-entendidos. Não permitamos que a luz do céu seja ofuscada pelas nuvens do ódio", continuou o papa, que deve ficar mais dois dias no Iraque.
O pontífice também lamentou "a morte de muitos homens" da comunidade Yazidi, que também testemunhou "milhares de mulheres, meninas e crianças sequestradas, vendidas como escravas, sujeitas a violência física e a conversões forçadas".