• Carregando...

O papa Francisco criou ontem um órgão que terá por função coordenar e supervisionar todos os assuntos econômicos e financeiros da Santa Sé.

A medida responde a uma série de escândalos e acusações de lavagem dinheiro no banco do Vaticano (cujo nome oficial é Instituto de Obras para a Religião) nos últimos anos.

O órgão ficará a cargo do cardeal australiano George Pell, arcebispo da Austrália. Pell faz parte do chamado G8, grupo de assessores do papa que estuda a reforma do governo do Vaticano e de sua controvertida administração central.

A Secretaria de Economia terá 15 membros – oito religiosos e sete laicos – de várias nacionalidades.

A criação do órgão foi decidida após a recomendação de 15 cardeais que examinaram os problemas administrativos e econômicos do Vaticano a pedido do papa Francisco.

Opinião

Narrativa midiática de um papa liberal não se confirma com Pell

Marcio Antonio Campos, blogueiro de ciência e religião da Gazeta do Povo

A nomeação do cardeal George Pell para comandar o novo órgão econômico do Vaticano traz à mente uma outra ação do papa Francisco. Em dezembro do ano passado, ele removeu o cardeal norte-americano Raymond Burke da importante Congregação para os Bispos. Burke está sempre tratando de temas como aborto, contracepção e homossexualismo, além de defender a solenidade na liturgia; isso faz dele, aos olhos da imprensa, um "conservador", e com sua saída construiu-se uma narrativa midiática segundo a qual o papa estaria "limpando a Cúria dos conservadores" – não importava o fato de outros 13 membros da mesma congregação também não terem tido seu mandato renovado na mesma ocasião, nem o fato de Burke ter mantido todos os outros cargos no Vaticano, inclusive o mais importante deles, o de prefeito do tribunal da Signatura Apostólica.

Se o australiano Pell não é tão "conservador" quanto Burke, pelo menos chega perto; basta recordar a reação horrorizada, nos círculos católicos "liberais", quando surgiu o rumor, em 2010, de que Bento XVI pretendia fazer de Pell o novo chefe da Congregação para os Bispos. Considerando a importância da reforma da estrutura econômico-financeira do Vaticano, a nomeação de Pell é proporcionalmente muito mais importante que a remoção de Burke. Justificá-la será um desafio para quem ainda acredita que o papa Francisco pretende mover a Igreja na direção de um hipotético "liberou geral".

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]