Em entrevista à agência de notícias Associated Press (AP) publicada nesta quarta-feira (25), a primeira desde a morte de Bento XVI em dezembro de 2022, o papa Francisco falou sobre sua saúde, fez críticas sobre legislações de países e falou sobre próxima fase de seu pontificado, que marca seu 10º aniversário em março. Francisco também chamou de "injustas" as leis que criminalizam a homossexualidade, orientação sexual que ele destaca continuar sendo pecado para a Igreja Católica.
"Sou saudável. Pela minha idade, sou normal", disse o pontífice de 86 anos. Ele conta que voltou a sofrer de diverticulose, quando bolsas se formam na parede do intestino. Em 2021, Francisco teve 33 centímetros de seu intestino grosso removidos.
“Posso morrer amanhã, mas vamos lá, está controlado. Estou bem de saúde", reforça.
Francisco ainda elogia Bento XVI, dizendo que, com a morte do antecessor, perdeu um pai. “Para mim, era uma segurança diante das dúvidas”, declara.
O papa ainda afirma que Bento "abriu a porta" para futuras renúncias e que também consideraria essa possibilidade.
Homossexualidade
“A homossexualidade não é crime”, destaca o Papa Francisco, que acredita que a Igreja deve participar da revogação de regulamentos que excluem homossexuais. O papa ainda reforça que, segundo a doutrina católica, os homossexuais devem ser tratados com respeito.
Em 2013, quando questionado sobre um padre conhecido por ser homossexual, o papa perguntou: “Quem sou eu para julgar” e, como arcebispo de Buenos Aires, ele promoveu proteções legais para casais do mesmo sexo como uma alternativa ao casamento proibido pela doutrina. Por outro lado, ele havia sido criticado pela comunidade LGBT por um decreto de 2021 cujos termos impediam a Igreja de abençoar uma união homossexual.
Sessenta e sete países criminalizam a homossexualidade, dos quais onze preveem a pena de morte, segundo a AP, citando a ONG Human Dignity Trust. As leis que criminalizam a homossexualidade são difundidas na África e no Oriente Médio, datando do Império Britânico ou inspiradas na lei islâmica.
Abusos sexuais
O pontífice também comenta a maneira como a Igreja Católica lidou com as alegações de abuso sexual contra Carlos Filipe Ximenes Belo, ex-líder católico no Timor Leste, que teria violentado rapazes de 14 e 15 anos.
Francisco sugere que realmente Belo teve permissão para se aposentar mais cedo para não enfrentar processos ou punições.
O papa reconhece que a Igreja Católica ainda tem um longo caminho a percorrer para lidar com o problema, dizendo que é necessário mais transparência e que os líderes da Igreja devem falar mais sobre o abuso de vulneráveis.
Porte de armas
O Papa Francisco também lamenta que o uso de armas por civis para se defender esteja se tornando um "hábito".
O pontífice, que frequentemente critica a indústria de armas, foi questionado sobre o grande número delas em mãos de civis e os frequentes massacres nos Estados Unidos.
“O problema é como essa necessidade de se defender cresce e se torna um hábito”, disse Francisco. “Em vez de nos esforçarmos para nos ajudar a viver, nos esforçamos para nos ajudar a matar”, declara.
Reforma alemã
Outro destaque da entrevista é o risco de que exista um processo de reforma na Igreja Católica sobre pedidos de padres casados e outras possíveis medidas consideradas “ideológicas” pelo papa.
Francisco foi questionado sobre o processo na Alemanha, onde bispos católicos e representantes de uma influente organização leiga estão abordando o que seriam reformas revolucionárias para a Igreja. Está prevista no processo a liberação de casamento para padres, diaconisas e oferta de benção da igreja para casais do mesmo sexo.
Na entrevista, o papa diz que, embora o diálogo seja bom, “a experiência alemã não ajuda”. Ele afirma que o processo até agora foi liderado pela “elite” porque não envolve “todo o povo de Deus”. Francisco comenta que o objetivo deve ser sempre a unidade da Igreja.